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PROGRAMAÇÃO:
JANEIRO de 2013
Sala de exibições
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão

Por curiosa ironia, coube a Luchino Visconti erguer o porta-estandarte do cinema neo-realista em Itália através da sua primeira obra: Obsessão, de 1943, a partir “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes” de James M. Cain (transformada pelos americanos num clássico do filme negro, três anos depois). Sincronizado temporalmente com o movimento encorpado por Rosselini e De Sica, a obra de Visconti não poderia ser mais díspar da dos seus comparsas e daquele movimento. A extraordinária riqueza da obra de Visconti vive muito das suas contradições e vivências: descendente de uma família aristocrata, cedo ingressa no partido comunista italiano, envereda pela formação artística (o teatro e a ópera, que depois marcarão presença explícita na sua obra) e consuma uma ligação aos movimentos intelectuais de Itália e França. A primeira parte da sua obra, até 1960, é, em larga medida, entregue ao povo italiano, às suas vidas, contrariedades e inquietações. Em 1948, a convite do partido Comunista Italiano, Visconti ergue o magnífico A Terra Treme; rodado numa pequena aldeia piscatória da Sicília, e sem actores profissionais, o filme representa as dificuldades e as vivências dos pescadores, alternando o dispositivo ficcional com o documental, criando retratos e situações portentosas, inolvidáveis. Sempre distante do neo-realismo, no que concerne à linguagem, pois Visconti conseguia introduzir glamour na contemporaneidade, mostra-nos uma enorme Anna Magnani, em Belíssima, a interpretar uma mãe de classe baixa, obstinada na condução da filha ao sucesso. Com Rocco e os Seus Irmãos (1960), Visconti constrói um retracto pungente de uma família do sul de Itália, pobre e desenraizada a lutar pela sobrevivência no norte industrializado, em Milão. Em 1954, surge a rica excepção nesta leitura, com o incontornável Sentimento (que exibimos em Julho de 2003), primeiro olhar sobre a aristocracia e a sua decadência, com (a condensa) Alida Valli perdida de amores, e disponível para a desonra e humilhação, por um oficial desertor da força austríaca que ocupava a Itália em meados do século XIX. O Leopardo (de 1963, a partir de Lampedusa, que exibimos em Maio de 2003) funciona como uma nota de intenções para a segunda metade da obra de Visconti: um olhar desencantado sobre a aristocracia, com a impossibilidade de aceitar a mudança e o progresso. Segue-se a denominada trilogia germânica (1969-1972), que inclui Os Malditos, introdução de um Macbeth no florescimento do nazismo; depois Morte em Veneza, a partir de Thomas Mann, juventude e perdição, arte e decadência (do protagonista, da cidade), impossibilidade de futuro; a fechar a trilogia, Luís da Baviera, dissecação de um rei louco, devoto à arte e alienado. No regresso a Itália e já debilitado fisicamente, Visconti entrega o proganista de Violência e Paixão (1974) a Burt Lancaster que parece, em conjunto com o cineasta, ter resgatado o personagem O Leopardo, para o actualizar e construir um retracto em volta da solidão extrema de um professor reformado, ladeado apenas por uma imensidão de obras de arte. A encerrar a filmografia de Visconti, uma obra magistral: O Intruso (L'innocente); adaptação de um romance de Gabriele D'Annunzio, enquadrado no final do sec.XIX, resulta numa exposição cruel e terminal da aristocracia, com um protagonista masculino pleno de insatisfação, excessivo na sua devassidão. Os códigos de honra e a necessidade de perpetuação, inscritos na traição familiar, já nada podem aqui e a sexualidade é sinónimo de perdição e o caminho inevitável para a destruição e para a morte.
Vitor Ribeiro, Novembro de 2012
Sessão I
OBSESSÃO
Ossessione (Itália, 1943, 140 min)
Sinopse
Gino, um jovem e atraente vagabundo, pára num restaurante de estrada onde conhece Giovanna, a bela mulher
do dono. Giovanna sente-se insatisfeita com o seu casamento com Bragana, um velho com quem se casou por
necessidade. Gino e Giovanna apaixonam-se e como não se conseguem mais afastar um do outro, decidem
matar o marido. No entanto, Gino sente-se perseguido pela imagem do morto e, roído pela culpa, decide partir.
Mais tarde, apercebe-se que não consegue viver sem Giovanna e regressa. Primeira longa metragem de Visconti
realizada em 1942 e proibida por Mussolini que mandou queimar todas as cópias por considerar o filme
escandaloso e imoral.
Ficha Técnica
Realização: Luchino Visconti
Interpretação: Clara Calamai, Massimo Girotti, Dhia Cristiani
Argumento: Luchino Visconti, Mario Alicata, Giuseppe De Santis, Gianni Puccini
Produção: Libero Solaroli
Música: Giuseppe Rosati
Fotografia: Domenico Scala, Aldo Tonti
Montagem: Mario Serandrei
Classificação: M/12
