Siga-nos no Facebook / Twitter!
PROGRAMAÇÃO: MAIO 2015
Sala de exibições
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão
AS ASAS DO VENTO de Hayao Miyazaki
Sinopse
Jiro sonha em voar e criar belos aviões, inspirado pelo famoso criador de aeronáutica
Caproni. A usar óculos desde tenra idade e impossibilitado de se tornar piloto, Jiro integra a
divisão de aeronáutica de uma grande empresa japonesa em 1927. A sua genialidade é cedo
reconhecida, e torna-se um dos mais respeitados engenheiros aeronáuticos. AS ASAS DO
VENTO debruça-se sobre a maior parte da sua vida, retratando eventos históricos do Japão que
afetaram a vida de Jiro, incluindo o grande terramoto de Kanno de 1923, a Grande Depressão, a
epidemia de tuberculose e a entrada do Japão na guerra. Ele conhece Nahoko, por quem se
apaixona, dedica-se à amizade com o seu colega Honjo, e inova constantemente, levando a
mundo da aviação para o futuro.
Hayao Miyazaki combina as personalidades do engenheiro
Jiro Horikoshi e do autor Tatsuo Hori, que foi contemporâneo do período abordado em AS
ASAS DO VENTO, para criar Jiro, um personagem fictício no centro de um conto épico de
amor, perseverança, e os desafios de conseguir viver e fazer as escolhas certas num
mundo tumultuoso.
Derradeiro filme animado de Hayao Miyazaki que concebeu, entre outros, A Princesa Mononoke
(1997), A Viagem de Chihiro (2001), O Castelo Andante (2004) e Ponyo à Beira Mar (2008).
Nomeado para “Melhor Filme de Animação”, nos Oscars 2014.
Ficha Técnica
Título original: The Wind Rises (Japão, 2013, 120 min.)
Realizador e Argumento: Hayao Miyazaki
Música: Joe Hisaishi
Produção: Koji Hoshimo, Toshio Suzuki
Estreia: 19 de Março de 2015
Distribuição: Outsider Filmes
Classificação: M/12
Animação suspensa
Jorge Mourinha, Público de 19 de Março de 2015
O último filme de Hayao Miyazaki é um belíssimo elogio do artesanato dobrado de melodrama poético.
Já desesperávamos de ver em sala o último filme do mestre japonês da animação Hayao Miyazaki — e último, aqui, não significa apenas “mais recente”, significa mesmo “último”, já que o cineasta anunciou publicamente a sua “reforma”, deixando As Asas do Vento como “testamento” cinematográfico.
É verdade que o seu cinema poético e adulto nunca granjeou muitos espectadores entre nós, e mais verdade é que a exibição e a distribuição portuguesa têm sérias dificuldades em abrir espaço para objectos “fora do baralho” num mercado onde a bitola continua a ser o filme “para miúdos” e o “massacre” mediático da Disney.
Mas, finalmente, com quase dois anos de atraso sobre a sua estreia japonesa e a passagem a concurso em Veneza 2013, As Asas do Vento chega às salas para uma breve carreira comercial. E mais vale mesmo tarde do que nunca, já que esta ficcionalização da vida de Jiro Horikoshi, engenheiro aeronáutico responsável pela criação do temido caça militar Mitsubishi Zero, no Japão pré-Segunda Guerra Mundial, funciona como uma espécie de “súmula autoral” do cinema de Miyazaki, na sua tentativa de reconciliar a técnica e a emoção, o sonho e a realidade. Não é por acaso que As Asas do Vento é um filme sobre um criador de aviões — no seu melhor, o cinema de animação “desprende-se” da gravidade do mundo real e adquire uma dimensão de “levitação” ou “suspensão”. A história de Jiro é, para Miyazaki, a possibilidade de ganhar asas e deixar para trás o “peso” da realidade para dar ao mundo um sonho que lhe sirva de guia: o mestre japonês mostra-o através da relação mestre-discípulo entre Jiro e o engenheiro italiano Giovanni Battista Caprone, que nunca se encontram a não ser em sonhos, e da ambiguidade moral de ambos ao dirigirem a sua “vocação” para a criação de aviões de guerra.
Para lá disso, contudo, As Asas do Vento é também um extraordinário melodrama clássico (nos moldes de um filme como Breve Encontro) sobre o amor como força motriz, através do romance entre Jiro e Naoko, descrito com uma contenção e uma delicadeza extraordinariamente difíceis de encontrar hoje em dia na imagem real. De certo modo, o que torna As Asas do Vento ainda mais notável é a sensação de que, ao falar de Jiro, Miyazaki está a falar de si próprio: o engenheiro é uma personagem “fora de tempo” no modo como, em plena idade “industrial”, usa a simples espinha do peixe como inspiração, enquanto, numa altura em que a animação se tornou cada vez mais obra de computador, o cineasta continua teimosamente a seguir uma estética de artesanato manual no traço e na elegância. A dada altura em As Asas do Vento, um piloto de testes diz da última criação de Jiro Horikoshi que “voa como um sonho”. Podíamos dizer o mesmo do filme, belíssima “coda” para uma carreira notável: Hayao Miyazaki vai fazer-nos muita falta.






