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PROGRAMAÇÃO: Março de 2012
Ciclo Werner Herzog Até ao Fim do Mundo
Entrada livre
PROGRAMAÇÃO (cont.)
Sala de exibições
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão

AVISO
Devido à indisponibilidade da cópia do filme EU VI O DIABO, anunciada pela distribuidora a apenas dois dias da data da exibição, promovemos a alteração no título a exibir, recaindo a escolha no filme THIRST - ESTE É O MEU SANGUE... de Park Chan-wook.
As nossas desculpas.
A Direcção do Cineclube de Joane
THIRST - ESTE É O MEU SANGUE... de Park Chan-wook
Sang-hyun (Song Kang-ho) é um padre católico que se voluntaria para testar uma nova vacina contra um vírus mortal que tem dizimado milhares de pessoas em África. Quando tudo corre mal, é-lhe feita uma transfusão urgente com sangue infectado que o mata e o faz renascer como vampiro. Torturado por dúvidas e desejos incontroláveis, a sua fé, até aí tão sólida, é irremediavelmente abalada. Em tentação permanente, vai encontrar o amor e a luxúria em Tae-ju (Kim Ok-vin), uma jovem e infeliz dona de casa, despertando-a para um amor obsceno e doentio onde sangue e desejo se misturam.
Um drama erótico, realizado pelo coreano Park Chan-wook ("Oldboy - Velho Amigo", "Lady Vengeance", "Sympathy for Lady Vengeance"), que conquistou o Prémio do Júri na 62.ª edição do Festival de Cannes.
Eu Vi o Diabo
Sinopse
Kyung-chul (Choi Min-sik) é um sádico sexual que mata sem remorsos e
com requintes de crueldade. Com toda a polícia de Seul no seu
encalço, nada o parece parar até ao dia em que escolhe como vítima a
jovem noiva de Soo-hyun (Lee Byung-hun), um agente da polícia
secreta coreana. Devastado pelo sofrimento e obcecado com a
vingança, Soo-hyun só tem um objectivo: fazer Kyung-chul sentir o
mesmo horror e sofrimento das suas vítimas. Assim começa um jogo
macabro em que caçador e presa trocam de papéis: o psicopata
assassino é convertido em vítima e a sua presa acaba transformado
num monstro igual àquele que desejava destruir.
Um filme de terror realizado pelo sul-coreano Kim Ji-woon ("A Tale of Two Sisters", "The Good, The Bad and the Weird"). Na Secção Oficial da edição de 2011 do Fantasporto recebeu o prémio de melhor realização e, na categoria Orient Express, o de melhor filme.
Download do Dossier
Ficha Técnica
Título original: Akmareul boatda (Coreia do Sul, 2011, Cores, 141 min.)
Realização: Kim Ji-woon
Interpretação: Choi Min-sik, Jeon Gook-hwan, Choi Min-sik, Lee Byung-hun
Argumento: Hoon-jung Park
Produção: Hyun-woo Kim
Música: Mowg
Fotografia: Mogae Lee
Montagem: Na-young Nam
Estreia: 24 de Agosto de 2011
Distribuição: Pepperview Entertainment
Classificação: M/16
Página Oficial: http://isawthedevil.jp/
Críticas
Diabo de filme
Vasco Câmara, Público de 25 de Agosto de 2011
"I saw the devil". É o espectador, certamente.
Sobre o "serial killer" - propôs numa entrevista Kim Ji-woon - haverá um modo oriental de ver e um modo ocidental. "No Ocidente, o foco são os aspectos individuais do bem e do mal. Na Ásia, interessa mais o ambiente social de que se é parte." Será como olhar para uma fotografia e recortar mentalmente quem ali aparece, destacando-o; ou, pelo contrário, aguentar o olhar na "big picture" e tirar disso as consequências.
Dê-se desconto ao que há de redutor na oposição. Mas contemos com ela para pensar no tráfico de influências, no que se comunica, entre cinema coreano e cinema americano: na forma como o primeiro tem ido buscar ao segundo algo que depois devolve, coisa outra, criação que parece original e tão idiossincrática que sempre que o segundo se quer, depois, aproveitar-se dela, porque ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão, o "remake" fracassa - foi assim com o "thriller" de acção de Hong Kong de ontem, nos anos 80/90 de John Woo e dos outros, é assim no cinema coreano de hoje, com os "thrillers" psicológicos-a-caminho-do-terror-e-do-fantástico de Bong Joon-ho ("Memories of Murder", "The Host", "Mother"), Park Chan-wook ("Sympathy for Mr. Vengeance", "Oldboy", "Sympathy for Lady Vengeance", "Thirst"), Na Hong-jin ("The Chaser", "The Yellow Sea"), Kim Ji-woon ("A Tale of Two Sisters", "A Bittersweet Life", agora "I Saw the Devil"), e outros. Há uma corrida entre estes coreanos, uma competição para ver quem chega aos extremos, é verdade. Mas o "horror porn" fica sempre de fora porque o que estremece ali é uma tragicomédia humana. Para o qual o cinema coreano olha de frente - e quando isso acontece é o cinema que olha em frente.
"I saw the devil", pois então. Começa com a encarnação do próprio diabo, um condutor de autocarros que se transfigura numa das criaturas mais escabrosas que a terra criou (um susto, o extraordinário Choi Min-sik, actor de "Old boy", que com este filme interrompeu uma pausa cinematográfica). Numa cave que é o cenário de uma fábula de horror, o condutor de autocarro dedica-se a práticas e gestos que são menos os de um médico legista e mais os de alguém que amanha peixe: decepa e esventra jovens vítimas. Mas é então que o imprevisível diabo se cruza com a namorada grávida de um polícia (Lee Byung-hyun)... câmara de horrores, facas, orelha, cabeça... e o diabo encontrará companhia: na pessoa do polícia, que promete vingar-se, devolver- lhe 10 mil vezes a dor que lhe foi causada.
Não estão a ver: é ainda a primeira hora do filme e inicia-se uma corrida de estafetas, um dar e receber a partir do momento em que o céu se rasgou. Mas repare-se na sequência em que a polícia e o noivo encontram os restos da vítima, na música que inunda, na barafunda burlesca dessa noite (toque coreano: horror e humor), como um épico "ocupado". Como se Kim Ji-woon nos quisesse dizer, logo ali, que há e haverá sempre pior - "Que mundo louco", exclamará alguém. É nesse momento, no (nosso) encontro com a consciência do filme, essa "big picture" tragico-cómica que ali tocamos e que não mais nos larga, que passamos a estar implicados no "i saw the devil".
Quem é que vê o diabo? O "serial killer" viu-o, foi tomado por ele - é ele. O polícia vingativo dá-lhe concorrência, arriscando ficar à altura: a catarse de lágrimas não o livra de ter "visto" - é ele. E o espectador não fica incólume, por aquilo que vai desejando, por quem vai torcendo no despique - é ele, sempre que vê. "I saw the devil" vai sendo uma experiência saturada de ressonâncias em que, para refazer o início deste texto, interessa menos se Kim Ji-woon se inspirou em David Fincher, nos Coen (o período "negro" inicial, respigado em "Este País não é para Velhos") ou no Tarantino de "Cães Danados" e mais o que ele faz com isso. Tal como assistir ao despique virtuoso e ao sadismo cinematográficos - falamos de Kim Ji-woon, que depois de se ter esmerado como cineasta-"serial killer" teve de cortar cenas da versão estreada na Coreia - é uma experiência de amargura moral. Há uma sequência em que, depois de um momento alto de horror e sangue, "I saw the devil" parece procurar refúgio. Como que para dar descanso ao espectador e a si próprio, suspende-se nas linhas brancas de uma auto-estrada pela noite... Ou não: é um alvoroço interiorizado, um horror, não há descanso aqui. Diabo de filme. (Que o diabo existe, prova-o o facto de Kim Ji-woon estar neste momento a preparar a sua experiência americana).
