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PROGRAMAÇÃO: JANEIRO 2014
Sala de exibições
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão

Sinopse
Isabelle e Christine (Noomi Rapace e Rachel McAdams) têm cargos de topo numa
multinacional. Isabel sente um fascínio mórbido por Christine que, aproveitando-se da
circunstância, inicia um jogo de sedução e dominação, dentro e fora do escritório. Porém, quando
a primeira acaba na cama com um dos amantes da amiga, dá-se início a uma guerra que as
empurrará até aos limites da moralidade, onde o controlo troca de mãos e as faz seguir em
direcção ao abismo.
Com assinatura do aclamado realizador Brian de Palma, um "thriller" erótico que segue a mesma linha de "Vestida Para Matar" (1980). "Paixão" é um "remake" do filme francês "Crime d'Amour" (2010), realizado por Alain Corneau e com Kristen Scott Thomas e Ludivine Sagnier como protagonistas..
Ficha Técnica
Título original: Passion (Alemanha / França, 2012, 100 min.)
Realização e Argumento: Brian De Palma
Interpretação: Rachel McAdams, Noomi Rapace, Karoline Herfurth
Produção: Saïd Ben Saïd, Alfred Hürmer
Musica: Pino Donaggio
Fotografia: José Luis Alcaine
Montagem: François Gédigier
Estreia: 11 de Julho de 2013
Distribuição: Zon Lusomundo
Classificação: M/16
Críticas
As paixões segundo De Palma
João Lopes, Cinemax
Fiel a si mesmo, Brian De Palma continua a explorar os labirintos clássicos do "thriller": "Paixão" é um magnífico filme que confirma a sua condição de discípulo de Alfred Hitchcock.
Brian De Palma (n. 1940) será tudo o que se quiser menos um cineasta convencional. Tal como outros elementos da geração dos chamados "movie brats" (Scorsese, Coppola, Bogdanovich, etc.), ele tem sabido trabalhar na corda bamba do classicismo, desafiando as suas fronteiras e explorando os caminhos de um cinema genuinamente moderno.
Depois de um trabalho magnífico, "Censurado" (2007), em que discutia as imagens da guerra do Iraque, não deixa de ser desconcertante que o reencontremos, agora, através de uma coprodução europeia (França/Alemanha), dirigindo uma actriz canadiana, Rachel McAdams, e outra sueca, Noomi Rapace. De facto, há nele uma dimensão universal que lhe permite mudar de contexto industrial sem perder a fundamental energia do seu universo — tudo acontece, afinal, numa paisagem passional que, obviamente, o título desde logo sinaliza.
"Paixão" inspira-se no derradeiro filme do francês Alain Corneau ("Crime d'Amour", 2010), mantendo a sua premissa central: duas mulheres que trabalham numa mesma empresa (desta vez, uma agência publicitária de Berlim), com uma delas a tentar roubar os créditos de um trabalho que, na verdade, é da autoria da outra...
Provavelmente, nas mãos de um cineasta convencional, estaríamos apenas perante um policial mais ou menos televisivo, de "mistério-até-ao-fim"... Filmado por De Palma, "Paixão" resulta um notável exercício de suspense que se vai transfigurando num elaborado enigma erótico. Ou ainda: até que ponto os mecanismos da traição coexistem com as estratégias de sedução? Decididamente, se ainda há discípulos de Hitchcock, De Palma é um dos mais legítimos e também mais brilhantes.
A Palmaridade relativa
Luís Miguel Oliveira, Público de 11 de Julho de 2013
A desfaçatez de Paixão é o que mais nos cativa: Brian de Palma vem de um tempo em que se acreditava que a mise en scène era tudo, e de Palma tanto acreditou nisso que passou uma carreira a copiar e a repisar o estilo dos mestres.
Lembramo-nos da irritação que Brian de Palma provocava em João Bénard da Costa, que até inventou um adjectivo - “palmar” - para classificar os filmes dele... Mas desconfiamos que até JBC ia concordar que, numa altura em que o cinema americano de grande circulação se tornou, 9 em cada 10 casos, ele próprio “palmar”, pueril, tacanho nos horizontes e bárbaro na relação com a sua própria história, a “palmaridade” de de Palma não só aparece bastante mitigada como facilmente se confunde com um sopro de inteligência, frescura, estilo, capacidade de ter uma relação com a tradição, e um módico de rebeldia, evidentemente desalinhado com o mainstream da grande indústria hollywoodiana, tomado de assalto (nos melhores casos, tipo JJ Abrams, e isto é que dramático, que Abrams seja “dos melhores casos”) pelos filhos do casal Lucas/Spielberg, que têm em Star Wars o seu Citizen Kane.
É essa a desfaçatez de Paixão, e que mais nos cativa: de Palma vem de um tempo em que se acreditava que a mise en scène era tudo, e de Palma tanto acreditou nisso que passou uma carreira a copiar e a repisar o estilo dos mestres, Hitchcock à cabeça. Com melhores ou piores resultados conforme os momentos (porque nem sempre funciona bem), e seguramente conforme as perspectivas, Paixão é um filme que, até com um certo exibicionismo (classicamente a “palmaridade” capital de de Palma), tenta fazer da mise en scène, e de uma ideia de estilo no sentido mais próprio (e mais “caligráfico”) do termo, o essencial. A história - Rachel McAdams e Noomi Rapace, também elas cheias de “estilo”, sobretudo a primeira, em “jogo de massacre” de femmes verdadeiramente fatales - é razoavelmente anedótica, mesmo que o seu “fatalismo” diabolicamente trajado de Prada não deixe de reenviar - com intenção - quer para a memória do noir hollywoodiano quer para os demonismos do cinema alemão. Por boas razões: de Palma filma em Berlim, Paixão é um filme feito com capitais franceses e alemães, e um remake de Crime d''Amour, que foi o derradeiro título assinado por Alain Corneau. E se tudo se podia passar, em termos narrativos, mais ou menos da mesma maneira se o cenário fosse outro, é pelo ambiente que de Palma encontra a sua solução: articular o high tech da Berlim contemporânea (a Potsdamer Platz...), o mundo de imagens e 1000 ecrãs (como os olhos de certo doutor filmado por Lang) que é o nosso mundo, e uma coisa subterrânea a querer vir à superfície, os demonismos do caligarismo e do expressionismo que estão enterrados debaixo do high tech contemporâneo. Quando os planos de de Palma começam a ter sombras a formar diagonais, ângulos rectos e outras figuras geométricas, sempre conquistadas à “realidade” dos cenários; ou quando se põe a fazer coisas esquisitíssimas com o split screen, que pouco trazem à narrativa mas estão lá, para ver e para influenciar o estado de quem vê - quando ele faz isto, está a reiterar, aceitemos que até em demonstração pelo absurdo, que com ele a narração precede, e ultrapassa, a narrativa. Temos visto pouco disto nos filmes (de) americanos que se têm visto.
