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PROGRAMAÇÃO

Gus VAN SANT

Jafar PANAHI
* TRAZ OUTRO AMIGO TAMBÉM

Ciclo Werner Herzog Até ao Fim do Mundo
Entrada livre


PROGRAMAÇÃO (cont.)

Mojtaba MIRTAHMASB, Jafar PANAHI

Sala de exibições Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão

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Inquietos

Download do Dossier Inquietos

Sinopse

Enoch Brae (Henry Hopper) é um rapaz deprimido que, desde a morte trágica dos pais, vive com a tia, com quem tem uma relação muito próxima. Desde que os pais partiram, numa tentativa de lidar com o seu próprio sofrimento, o rapaz passou a conversar com o fantasma de Hiroshi, um kamikaze japonês falecido na II Guerra, e ganhou o estranho hábito de ir a funerais de desconhecidos. Num desses funerais, conhece Annabel (Mia Wasikowska), uma rapariga alegre que sofre de um tumor no cérebro e que tem apenas mais três meses de vida. Contra todas as expectativas, os dois apaixonam-se profundamente. E enquanto ela está determinada a viver aqueles últimos meses em plena felicidade, ele vive a angústia constante de perder quem ama uma vez mais.

Nota do Realizador

Uma história dramática sobre o amor e a morte realizada por Gus Van Sant ("O Bom Rebelde", "Paranoid Park", "Milk"), seguindo um argumento de Jason Lew.

Ficha Técnica

Título original: Restless (EUA, 2011, 91 min.)
Realização: Gus Van Sant
Interpretação: Mia Wasikowska, Henry Hopper, Ryo Kase, Schuyler Fisk, Lusia Strus
Produção: Brian Grazer, Bryce Dallas Howard, Ron Howard
Música: Danny Elfman
Fotografia: Harris Savides
Montagem: Elliot Graham
Estreia: 9 de Novembro de 2011
Distribuição: Columbia Tristar Warner
Classificação: M/12
Página Oficial: http://www.sonypictures.pt/

Críticas

A arte de morrer
Luís Miguel Oliveira, Público de 10 de Novembro de 2011

Estamos próximos do milagre, e francamente não imaginávamos Gus Van Sant como milagreiro

Por esta não estávamos à espera. Que Gus van Sant, depois da sua tetralogia fria e cerebral composta por “Gerry”, “Elephant”, “Last Days” e “Paranoid Park”, nalguns pontos a tender para a mais esparsa abstracção, se atirasse a um filme como “Inquietos”, feito de emoção e de pungência, quase um melodrama de género. Pelo meio houve, claro, “Milk”, filme de reconstituição histórica e intervenção social, mas “Inquietos”, retomando de outra maneira o olhar sobre a adolescência e os adolescentes que dominava, em diferentes graus, aqueles quatro filmes, deixa-o num parêntesis. Provavelmente, “Inquietos” será outro parêntesis, a julgar pela recepção americana, que não deverá ter dado a Van Sant grande vontade de repetir a graça: enorme “flop” (menos de duzentos mil dólares de receita para um orçamento de oito milhões), e muito pouco entusiasmo da crítica, quando não o mais completo arraso.

De “Elephant” ou “Paranoid Park” Van Sant traz, portanto, os adolescentes, e alguma coisa do tratamento plástico e narrativo: a gestão do tempo (sim, é “lento”, não tão lento como “Last Days”, mas é “lento”), embora algumas cruciais elipses venham acelerar o filme; a natureza como presença sensual (o Outono do Oregon, as folhas alaranjadas que cobrem os jardins e cemitérios de Portland); a criação de uma atmosfera musical cuidadosa e discreta (há quase sempre música, embora raramente ela salte para o primeiro plano sonoro - é muito “à Sokurov”). Os adolescentes, por seu lado, são um pouco diferentes dos “skaters” de “Paranoid Park”: articulados, cultos, espertos. Ainda um pouco sonâmbulos, e certamente um pouco rebeldes, mas sonambulismo e rebeldia que se conjugam noutros termos.

São adolescentes “idealizados”? Talvez, porque embora o par central (Henry Hopper, filho de Dennis, e Mia Wasilewska) seja sempre “real” e credível, “Inquietos” trabalha mais em “cinema”, no sentido clássico, do que nesses outros filmes, e consequentemente procura mais ter “personagens de cinema”. Realismo e verosimilhança que não sejam os construídos pelo próprio filme interessam pouco. Até há um fantasma, o de um “kamikaze” japonês morto na II Guerra, e ai de quem não acredite na sua realidade e verosimilhança - Van Sant tem um lado “esponja” (é ver como “absorveu” Bela Tarr, não nos admirávamos que este fantasma viesse de Apichatpong e de um cinema que desse por adquirido que é normal que os vivos, os mortos, os moribundos e os fantasmas convivam na mesma ordem de realidade (fílmica, pelo menos).

E é de morte que se trata, evidentemente. O que acontece quando um miúdo de nome bíblico, obcecado com funerais de estranhos (depois perceberemos porquê), e uma miúda com nome de heróina de Poe, apaixonada pela vida (estudante de Darwin e de ornitologia) mas cancerosa em estado terminal, se conhecem e se tornam, durante os três meses que restam, namorados. Alguns grandes dramalhões (“Love Story” ou aquele “Dying Young” dos anos 90 com Julia Roberts, por exemplo) foram feitos a partir das mesmas premissas. Mas “Inquietos” é tudo menos um dramalhão. Isto tem causado engulhos: aparentemente, segundo algumas críticas americanas, não é possível “rir” num filme sobre a morte sem que isso signifique “falta de respeito” pelos mortos (aqui, voltaríamos a Apichatpong: não é possível “rir” no “Tio Boonmee”, ou já nem Tailândia se respeitam os mortos?). Acontece que nada faz propriamente “rir” em “Inquietos”, antes é um filme cuidadosamente limado de todos os clichés sobre a “morte jovem”, com personagens que, justamente, aceitam esse destino ao mesmo tempo que, muito romanticamente, o vivem como uma espécie de teatro (como na cena em que citam, sem citar, uma cena do “Romeu & Julieta”).

Se a gente se ri, ou sorri, é porque ter o coração quente dá vontade de rir e sorrir, e a justeza emocional de “Inquietos”, sobretudo nas pequenas coisas (os beijos, as zangas, as cartas), é admirável, e Hopper e Wasilewska são perfeitos nessa mistura de convicção e “maladresse” de que as suas personagens são feitas. Para que não fiquem dúvidas: em “Inquietos” não está em causa outra coisa que não seja a “arte de morrer”, como nos melodramas de Frank Borzage nos anos 30 onde estes papéis seriam interpretados por James Stewart e Margaret Sullavan. A “arte de morrer”, evidentemente, é uma coisa de cinema. E como nesses filmes, ri-se e chora-se em “Inquietos” porque os actores são luminosos e comoventes, e porque o realizador sabe o exacto valor de uma lágrima (ou seja, não a desbarata, nem a vende demasiado cara).

Estamos próximos do milagre, e francamente não imaginávamos Gus Van Sant como milagreiro. Melhor filme americano do ano? Pelo menos enquanto não estrear o McQueen. E só atrás do “Filme Socialismo”.

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