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Sala de exibições Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão

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A GRUTA DOS SONHOS PERDIDOS de Werner Herzog

Sinopse

O documentário "A Gruta dos Sonhos Perdidos" resulta do acesso exclusivo do realizador Werner Herzog ("Grizzly Man", "Polícia Sem Lei") às grutas de Chauvet-Pont-d'Arc, descobertas em 1994 na pequena cidade com o mesmo nome, no Sul de França. Vistas por poucos, as suas extraordinárias pinturas rupestres de 32 mil anos são as mais antigas alguma vez encontradas, tornando este local num dos mais importantes pontos de interesse científico, quer para a arqueologia como para a geologia. Com câmaras 3D de última geração, o realizador leva- nos a uma viagem ao passado da Humanidade e ao nascimento da Arte.

Download do Dossier

Ficha Técnica

Título original: Cave of Forgotten Dreams (GB/CAN/EUA/ALE/FRA, 2010, 90 min.)
Realização e Argumento: Werner Herzog
Produção: Adrienne Ciuffo, Erik Nelson
Musica: Ernst Reijseger
Fotografia: Peter Zeitlinger
Montagem: Joe Bini, Maya Hawke
Estreia: 6 de Janeiro de 2012
Distribuição: Pris Audiovisuais
Classificação: M/6
Página oficial: http://www.caveofforgottendreams.co.uk/

Críticas

Na cápsula do tempo
Tiago Alves, Cinemax

A primeira grande experiência cinematográfica do ano é um documentário em 3D sobre as gravuras rupestres mais bem conservadas que alguma vez foram descobertas.

Era uma vez há 30.000 anos... as pinturas rupestres visíveis nesta fotografia transmitem apenas uma pequena ideia da riqueza contida na caverna de Chauvet. Nestes desenhos surgem espécies típicas do paleolítico (cavalos, renas e bisontes), mas também vemos predadores raramente reproduzidos noutros santuários de arte rupestre (leões, ursos, panteras, cães selvagens).

Esta descoberta é notável porque as gravuras estão extremamente nítidas e revelam uma riqueza impressionante. Não são meras sugestões primitivas de vida animal, são ilustrações anatomicamente corretas, com movimento, e linhas muito elegantes.

A beleza deste achado rupestre e artístico deve-se às condições extraordinárias que conservaram as gravuras - a caverna esteve selada, devido a uma derrocada, e quando foi descoberta, através da corrente de ar que atravessava uma fenda, foi ligada ao exterior por uma passagem estreita. Hoje continua encerrada, como um cofre-forte, ao qual só acedem investigadores durante períodos extremamente curtos. No interior, só é possível circular com restrições numa passagem metálica de dois metros. O objetivo é evitar a degradação, como sucedeu nas famosas grutas de Lascaux, que foram encerradas porque as gravuras tinham bolor provocado pela respiração dos turistas.

Werner Herzog teve oportunidade de entrar na caverna de Chauvet. O documentarista valoriza a descoberta que Eliette Brunel-Deschamps, Hillaire Christian e Jean-Marie Chauvet fizeram em 1994, procurando demonstrar que estamos num local onde as coordenadas temporais e espaciais estão profundamente indefinidas. Naquele espaço é possível pressentir os pintores do paleolítico e encontrar registos de presença animal que se sobrepõem e confundem - as pegadas de um lobo e de uma criança de 8 anos, no mesmo trilho da caverna, podem ter sido feitas em datas diferentes, com um intervalo de 5.000 anos...

Num determinado momento do documentário, um historiador salienta que para o homo sapiens tudo era mutável - humano e animalesco - e permeável - corpo e espírito, sugerindo que deveríamos designá-lo por homo spiritus. Este filme capta esse espírito que percorre praticamente toda a história da humanidade. No entanto a narrativa nem sempre sustenta a abordagem filosófica ou poética, sendo que Herzog não é uma mais-valia no papel de narrador.

"A Gruta dos Sonhos Perdidos" é uma porta de entrada para uma cápsula do tempo, uma passagem para um local que permanece selado, que está inacessível. A viagem é enriquecida pela perspetiva ajustada das três dimensões, que acrescenta textura às gravuras, transmite uma noção do espaço exíguo e o relevo de uma caverna geologicamente muito rica.

O filme de Werner Herzog é o caso de uma experiência cinematográfica única que valoriza este achado histórico, dignifica o cinema em 3D e enobrece a arte do documentário.

Aventura no Paleolítico
Luís Miguel Oliveira, 6 de Janeiro de 2012

Ficamos com a frustrante sensação de que a aventura do filme foi muito mais entusiasmante do que o filme da aventura

Nos nossos dias ninguém corresponde melhor à ideia de um cineasta “trota-mundos”, em permanente errância, do que Werner Herzog. Tão depressa o apanhamos em Nova Orleães a filmar polícias alucinados como no vale do Ródano, preocupado com grutas do paleolítico, ou a investigar a “death row” de uma prisão texana - seja documentário, seja ficção, vai a todas, onde quer que elas estejam. Louve-se, que disto nunca houve muito e hoje, como de resto se passa com tudo, ainda há menos. A prisão texana é o último filme de Herzog (“Into the Abyss”), ainda não visto por cá; o que agora nos interessa é o das grutas do Ródano, o penúltimo.

“A Gruta dos Sonhos Perdidos” ou, mais exactamente, a “gruta Chauvet”, assim chamada em homenagem a um dos seus descobridores. Foi descoberta nos anos 90 e desde então, estando em estudo e conservação permanentes, o acesso a ela tem sido exclusivo de arqueólogos, espeleólogos e outros especialistas. Herzog conseguiu convencer o Ministério da Cultura de França a deixá-lo visitar a gruta e filmá-la - ou conforme outras versões da génese do filme, foi o próprio Ministério a convidá-lo e a encomendar-lhe a obra. Seja lá qual for a versão correcta da história, “A Gruta dos Sonhos Perdidos” corresponde a uma “première”: pela primeira vez o grande público tem acesso visual ao interior da “gruta Chauvet”.

A gruta é notável, entre outras coisas, pelos seus desenhos rupestres (animais, sobretudo), tidos como os mais remotos exemplos de arte paleolítica alguma vez encontrados. Mesmo sem desenhos, é um cenário fabuloso, a secura das paredes rochosas e a plasticidade gelatinosa da calcite, das estalactites e das estalagmites combinando-se para criar um décor que seria convincente num filme de ficção científica. Mostrar a gruta, os seus desenhos e as suas esculturas naturais, é a prioridade de Herzog - com a ajuda das 3D, processo que embora acabe por se tornar tão cansativo como na generalidade dos casos em que tem sido empregue faz aqui um sentido diferente, mais necessário: não se trata de “encher o olho”, mas de ajudar a compreender um espaço, nas suas dimensões e proporções.

Mostrar a gruta, Herzog mostra-a bem, talvez até demais. As sequências finais são bastante repetitivas, as mesmas paredes, as mesmas gravuras, as mesmas câmaras, mostradas uma e outra vez. Por essa altura, no entanto, o filme está já em território herzoguiano: deixa de ser apenas a gruta mas, a partir da gruta, imaginar o inimaginável, quer dizer, quem eram aqueles homens que há milhares de anos a frequentaram e pintaram, que faziam ali, como se relacionavam, que mundo era o deles, que fauna povoava os bosques europeus. A gruta como um portal para outro tempo, outro lugar, outro universo. Diversos especialistas são convocados para acrescentarem elementos pertinentes a esta imaginação. Mas em última análise, prevalece o peculiar misticismo, com queda para a grandiloquência, da voz “off” dita pelo próprio Herzog. Conhecemos isto doutros filmes dele, ficção ou documentário, umas vezes funciona outras não. Aqui é só meias-tintas, com o pormenor, ora divertido ora exasperante, de o seu carregadíssimo sotaque germânico (a locução é em inglês) tornar impossível distinguir a que ponto (alguma) ironia se vem imiscuir na empolada seriedade com que ele diz o seu texto (o leitor lembrar-se-á que isto já acontecia num filme como “Grizzly Man”, mas aí o grau de absurdo e de loucura era outro, a ironia não precisava de ser “provocada”). Herzog, claro, também é um cineasta da proeza, do filme como aventura vivida, em primeiro lugar, por ele próprio. Mestre das rodagens difíceis, não perde uma oportunidade para dizer e mostrar quão difícil foi rodar “A Gruta dos Sonhos Perdidos”. Não duvidamos. Mas como noutros momentos da sua obra (até nos seus “clássicos”: “Aguirre” ou “Fitzcarraldo”), ficamos com a ligeiramente frustrante sensação de que a aventura do filme foi muito mais entusiasmante do que o filme da aventura.

Entretanto, e como bom aventureiro, Herzog já partiu para outra. Venha daí o tal filme sobre condenados à morte no Texas, este é só assim assim.

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