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PROGRAMAÇÃO: Abril 2017
Sala de exibições:
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão
Sinopse
O iraniano Asghar Farhadi – que trabalha em cinema desde 2002 mas em 2011 prendeu a crítica internacional com Uma Separação, que conquistou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro – está de volta com um filme vencedor de dois prémios em Cannes: o de Melhor Argumento, para o próprio realizador, e o de Melhor Actor, para Shahab Hosseini. O Vendedor gira à volta de um casal de actores que são protagonistas de uma produção local da emblemática peça A Morte de um Caixeiro Viajante, escrita por Arthur Miller em 1949 e premiada com o Pulitzer. A sua vida íntima é virada do avesso quando se mudam para uma casa que terá pertencido a uma prostituta.
Vencedor do Óscar de Melhor Filmes Estrangeiro.
Ficha Técnica
Título original: Forushande (França / Irão, 2016, 125 min.)
Realização e Argumento: Asghar Farhadi
Interpretação: Shahab Hosseini, Taraneh Alidoosti, Babak Karimi
Produção: Alexandre Mallet-Guy, Asghar Farhadi
Musica: Sattar Oraki (fa)
Fotografia: Hossein Jafarian
Montagem: Hayedeh Safiyari
Estreia: 22 de Dezembro de 2016
Distribuição: Alambique
Classificação: M/12
Mais um belo filme do cinema iraniano
João Lopes, DN
É mesmo verdade que existe uma fascinante via realista no interior do cinema iraniano. Podemos defini-la a partir dos trabalhos de dois grandes cineastas como Abbas Kiarostami e Jafar Panahi, mas também através dos emblemáticos filmes de Asghar Farhadi: Uma Separação (2011), O Passado (2013) e, agora, O Vendedor, distinguido em Cannes com os prémios de interpretação masculina (Shahab Hosseini) e argumento (do próprio Farhadi).
Tal como nos títulos anteriores, trata-se de observar a crise de um casal, neste caso atores a trabalhar em Teerão numa encenação da peça Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller. A sugestão de um jogo de espelhos entre vida vivida e vida representada é imediata, gerando-se uma teia de acontecimentos em que os elementos mais obscuros podem ser também, paradoxalmente, os mais reveladores. Sempre com uma delicada atenção ao papel social e simbólico das mulheres, Farhadi é um cineasta de uma psicologia sem psicologismos, particular nos elementos culturais que convoca, universal na sua capacidade de envolvimento.
Dentro de casa
Jorge Mourinha, Publico de 22 de Dezembro de 2016
Mais um inteligentíssimo conto moral sobre o perdão filmado por um cineasta que parece fazê-los com uma perna às costas.
O que é que a Morte de Um Caixeiro Viajante de Arthur Miller vem fazer num conto moral na Teerão contemporânea? Vai-se a ver, tudo, porque o novo filme de Asghar Farhadi (Uma Separação, 2011; O Passado, 2013) é percorrido visceralmente por esta ideia de vidas banais que passaram “ao lado”, e porque o seu casal central, Rana e Emad, são actores numa produção da peça que está à beira de se estrear. Não é uma surpresa que o cineasta iraniano utilize os ensaios e as representações da peça como espelho, reflexo, comentário da vida quotidiana de Rana e Emad (ah, o teatro e a vida, esse dispositivo que já está puído de tanto uso). O que é de reter é como isso encaixa tão bem em mais uma das cascatas de pequenos mal-entendidos ou omissões que Farhadi tornou a sua imagem de marca.
Aqui, tudo começa com uma obra pública que torna inabitável o prédio onde o casal mora. Forçados a encontrar uma casa nova de um momento para o outro, Rana e Emad aceitam a proposta de um colega de elenco que tem um apartamento livre — só que a antiga inquilina deixou para trás não apenas os seus pertences como a reputação de mulher dissoluta (que, no Irão dos ayatollahs, é uma coisa muito mais séria). A partir de um ponto de partida que tem tudo de fait-divers trivial, Farhadi desenrola pacientemente um novelo moral que explora o seu tema recorrente: o conceito de perdão. O dominó de O Vendedor aproxima-se mais de About Elly (2009), o filme que primeiro chamou a atenção do Ocidente para o realizador; a ameaça de desabamento com que o novo filme começa é uma metáfora do que se seguirá, porque a vida de Rana e Emad vai literalmente desabar com a mudança e tudo vai ser posto em causa. Não é por acaso que a câmara de Hossein Jafarian está sempre nervosa, à mão, em movimento dentro de casa. A casa, que deveria ser o refúgio, é precisamente por onde tudo começa a desabar e onde se tenta repor a normalidade num extraordinário terceiro acto — o melhor momento do filme — que apenas sublinha a futilidade de tentar voltar atrás.
O Vendedor não traz muito de novo ao cinema de Asghar Farhadi; aqui e ali parece sentir-se uma “fórmula resolvente”, um acomodamento a um classicismo do qual não se afasta grandemente e que, é verdade, já quase não se vê hoje em dia; e a metáfora do teatro, apesar da justeza com que é integrada, dá ao filme um aroma bafiento. Mas, no caso de Farhadi, isso está por enquanto muito longe de constituir um problema: O Vendedor continua a sua linhagem de histórias complexas contadas de maneira simples, com uma inteligência discreta, com actores permanentemente excelentes.

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