Siga-nos no Facebook / Twitter!

PROGRAMAÇÃO: NOVEMBRO 2013

Filme
NOV
7
Foto
Eduardo NUNES

Filme
NOV
14
Foto
Cate SHORTLAND


Filme
NOV
21
Foto
Jia Zhang Ke

Filme
NOV
28
Foto
Jean-Claude BRISSEAU
* TRAZ OUTRO AMIGO TAMBÉM!

Filme
NOV
30
Foto
Charlie CHAPLIN
* Filme-Concerto


Sala de exibições Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão

bottom corner

 
   

Prólogo
Fade in
1. Exterior, mundo mudo
Um vagabundo mítico, feito de genica, nasce em comédia no ano 14 do último século começado por mil.
Dissolve in
Legenda
99 anos depois
2. Interior, sala de projecções
Reputado cineclube, de Joane, encomenda som para filme. É convidada banda. Câmara aproxima-se, outras formas aparecem.
Dissolve out
Dissolve in
3. Exterior, uma casa, das artes de Famalicão
Atravessamos jardim geométrico, cheio de ervas, crianças lutam. Câmara desloca-se, no ecrã estão palavras: A 30 de Novembro, 22 horas. Ouvimos música arrebatadora, título aparece: bueno.sair.es em O Garoto de Chaplin.
Fade in
4. Interior de grande auditório
Enorme, está escuro, silhueta é projectada em ecrã. Baixos reflectidos por oposição à luz.
Narrador
Primeira longa de Chaplin, turbulência emocional. Do apressado casamento com a jovem Mildred resulta nado, morto em 3 dias. De perda resulta filme. Respeitando pudor, bueno.sair.es constrói narrativa musical, paralela. Deixa que viva personagem querida, transformando-se. Afinal, cinema é arte obscena, e amor. Nunca, desde que o mundo é mundo, um mito recebera adesão tão universal, escreveu Bazin. Segredo desvendado: o vagabundo, de fraque ridículo, bigodinho bengala e chapéu, será pai de criança abandonada. A banda, metamorfose ao avesso.
Fade out


SUDOESTE de Eduardo Nunes

Sinopse

Numa vila isolada do litoral brasileiro onde tudo parece imóvel, Clarice percebe a sua vida durante um único dia, em descompasso com as pessoas que ela encontra e que apenas vivem aquele dia como outro qualquer. Ela tenta entender a sua obscura realidade e o destino das pessoas a sua volta num tempo circular que assombra e desorienta.

Estreia Nacional

Prémios em Festivais
FESTIVAL DO RIO 2011
Prémio da Crítica (FIPRESCI); Prémio Especial do Júri; Prémio de Melhor Fotografia
FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA 2011_ Prêmio de Melhor Diretor
FESTIVAL DE CINEMA DE HAVANA 2011 (CUBA) _ Prémio de Melhor Contribuição Artística
FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE GUADALAJARA 2012 (MÉXICO)
Prémio de Melhor Fotografia
FESTIVAL DE CINEMA DE TOULOUSE 2012 (FRANÇA) _ Prémio da Crítica (FIPRESCI)
JEONJU INTERNATIONAL FILM FESTIVAL 2012 (COREIA) _ Prémio Especial do Júri
ZERKALO INTERNATIONAL FILM FESTIVAL 2012 (RUSSIA) _ Prémio Andrei Tarkovski

Download do Dossier

Ficha Técnica

Título original: Sudoeste (Brasil, 2011, 128 min.)
Realização: Eduardo Nunes
Interpretação: Simone Spoladore, Julio Adrião, Raquel Bonfante, Mariana Lima
Argumento: Guilherme Sarmiento, Eduardo Nunes
Fotografia: Mauro Pinheiro Jr.
Montagem: Flávio Zettel
Música: Cristiano de Abreu, Tiago Azevedo, Yuri Villar
Produção: Helder Dacosta, Patrick Leblanc
Estreia: 7 de Novembro de 2013
Distribuição: Nitrato Filmes
Classificação: M/12

Biografia do Realizador

Eduardo Nunes nasceu em 1969 na cidade de Niterói, Brasil. Estudou na Escola de Cinema da UFF (Rio de Janeiro) e trabalhou em diversos filmes como assistente de direção, produtor e montador. Em 1994 dirigiu seu primeiro curta: SOPRO (co-dirigido por Flávio Zettel). Seguiram outros quatro curtas: TERRAL (1995), A INFÂNCIA DA MULHER BARBADA (1996), TROPEL (2000) e REMINISCÊNCIA (2001). Juntos estes filmes ganharam mais de 40 prêmios e foram exibidos em importantes festivais, como Rotterdam, Berlin, Clermont-Ferrand, Havana, Biarritz, Brasília, Gramado, etc.. Nunes também trabalha como diretor de documentários para a TV desde 1998. SUDOESTE é o seu primeiro longa-metragem. Atualmente prepara o roteiro de seu segundo longa, adaptado de um romance de Albert Camus, A MORTE FELIZ.

Entrevista com o Realizador

Trechos de entrevistas realizadas com Eduardo Nunes - diretor do filme - para os jornalistas Marcelo Dib (Diário de Pernambuco) e Ana Paula Soares (jornal O FLUMINENSE).

Como surgiu a ideia de criar um filme com uma proposta estática tão diferente?

A própria história do filme já é um pouco diferente: uma menina que nasce, cresce, envelhece e morre no mesmo dia. Primeiro a gente tinha a ideia de criar dois tempos paralelos. Você só tem noção de tempo se você tiver alguma coisa exterior àquilo, uma forma de comparar. Então, no início, a ideia original era um lugar que não tivesse nem tempo, nem local definido. Como se fosse uma fábula e que tudo ali passasse muito rápido. Mas como você não tinha nenhuma referência, você não tinha como dizer que aquele tempo estava passando muito rápido. Aí entram os dois tempos paralelos: um com as pessoas que vivem naquele lugar e tinham um dia como outro qualquer e outro que era o dessa menina, que tem a vida toda num único dia. A escolha do preto e branco foi porque nossa realidade é colorida e essa ausência de cor que escolhemos acaba criando uma distância da realidade. E esse formato da janela (3,66;1) do filme, que é compridinho, foi escolhido porque tudo lá na Região dos Lagos (onde filmamos) é muito horizontal, não tem prédios. Fazendo assim, tudo ficou mais harmônico para o filme. Foi uma sugestão do fotografo, Mauro Pinheiro, que ajudou a contar mais a história.

Uma vida em um dia... Como podemos definir este filme?

É como uma fábula. Eu imagino assim. É engraçado porque o filme deixa várias lacunas. A história não é completamente fechada nela mesma. Cada pessoa vê o filme de um jeito. No Festival de Gramado, algumas pessoas vieram falar comigo sobre suas leituras do filme. Eu acho que a riqueza de uma obra é permitir que cada um tenha a sua própria leitura. A qualidade dele vem em não se fechar em uma única ideia.

Clarice, a personagem principal, vive sozinha. Qual o significado que isso pode ter?

É que no findo estamos sempre sozinhos. A Clarice, por ter a vida dela diferente do tempo dos outros, não consegue se aproximar de ninguém, não consegue ter uma relação que dure. E a gente também. Por mais que você conviva com uma pessoa, que divida com alguém a sua vida, seu espaço, seu tempo, você é sempre você, sozinho em seu mundo. Tem essa leitura que força um pouco as pessoas a pensarem sobre a sua posição no mundo, que ao mesmo tempo em que a vida é compartilhada, ela é muito solitária. Tem coisas que você não diz nem para você mesmo, você não sabe entender. O filme é muito maior do que eu, não consigo entendê-lo completamente. Toda vez que eu procuro entendê-lo, eu descubro uma coisa diferente. Tem quase dois meses que ele ficou pronto e a repercussão que causou de leituras diferentes já me “assustou”.

Você vem de uma carreira de filmes de curta metragem. Como surgiu a vontade de realizar um longa?

Acho que a vontade de realizar um longa vem naturalmente como uma continuidade da carreira como realizador. Mas sempre gostei de fazer curtas, e nunca os via como uma obra menor. É apenas uma história mais curta, como um conto. Mas a vontade do longa foi ficando mais madura à medida que percebi que a história do SUDOESTE nunca caberia num curta. Além disso, um longa sempre tem a possibilidade de chegar a mais pessoas.

O longa responde a que tipo de inquietudes? São as mesmas que te moveram até então?

Não consigo fazer um filme sem que seja sobre um assunto que me interessa muito. Por isso esperei tanto pelo SUDOESTE. Acho que o filme fala do tempo, e de como o percebemos. Daí vem questões como a morte e as relações que estabelecemos na vida. Acho que os assuntos que sempre tratei nos curtas e no longa sempre foram esses. Tenho alguns projetos novos, e passam por ai também. E em temas como esse, uma abordagem com longos silêncios e imagens mais contemplativas ajudam muito a compor a atmosfera do filme.

O espaço é uma dimensão tão importante quanto o tempo no seu filme. O que te levou a escolher o Pontal do Massambaba como locação?

O Pontal do Massambaba foi quase um milagre. Pois o roteiro que eu e o Guilherme Sarmiento escrevemos se passava numa pequena vila de pescadores que existia apenas em nossas cabeças. E como o filme tem um tom de fábula era preciso encontrar uma locação que transmitisse essa ideia de abandono, do tempo atuando sobre as coisas e pessoas. E esta locação era uma antiga vila de salineiros que estava abandonada por mais de 40 anos, e que antes possuía uma vida intensa, com igreja e escola. Com certeza a locação foi fundamental para todo o filme, não só como espaço físico onde a ação acontece, mas como uma grande inspiração para toda a equipe e elenco.

Apesar de se passar no litoral, há a impressão (ao menos na minha leitura) de que estamos em um local gelado. E o preto-e-branco contribui para isso. Com que intenção você optou pela imagem monocromática?

É uma observação interessante. A escolha do preto e branco surgiu para dar ao filme um distanciamento da realidade, alimentando este lado irreal, de fábula. Ao mesmo tempo, optar pelo preto e branco é retirar do espectador algumas informações que as cores transmitem. Como o filme não possui uma época e um local definidos, o preto e branco ainda aumenta estas incertezas, e a temperatura é uma delas. É impossível saber se faz calor ou frio, alguns personagens estão muito cobertos (até para proteger-se do sol), enquanto que outros quase nada. Me agrada muito o clima gélido que o filme adquire.

Uma questão técnica: como foi se adequar ao formato 3.66? Você tem notícia se ele já foi usado em outras produções, talvez de 50, 80 anos atrás?

É um formato novo. Inspirado em experiências radicais de Abel Gance, nos anos 20 e 30, com filmes como A RODA, e NAPOLEÃO. Em A RODA o quadro se adequava ao assunto que ele queria tratar, era uma experiência fascinante. Acho que perdemos muito a vontade experimentar para aumentar a potencialidade de uma narrativa. Claro que isso traz uma série de problemas, não só na filmagem (pois o nosso limite vertical era muito curto, e para alguns enquadramentos tivemos até que derrubar paredes da casa que filmamos para recuar a câmera), como também para a exibição, não consigo ver este filme na TV, mas no cinema ele é funciona muito bem. É um filme para o cinema.

Não só pelo formato e metragem pouco usuais, Sudoeste pode assume riscos que podem comprometer sua circulação em festivais e salas de cinema. Isso chegou a ser um dilema?

Nunca chegou a ser um dilema, até porque nosso produtor, Patrick Leblanc, sempre nos apoiou. Mas, com certeza, traz limitações, em festivais e num futuro circuito comercial, já passamos por experiências que demonstraram isso. Mas acho que a história do filme está acima disso (vejo como a melhor qualidade do filme) e todos os outros elementos (enquadramento, duração, preto e branco) estão em função desta história.

Gostaria de falar um pouco de referências. Durante o filme, foi inevitável lembrar de Mario Peixoto e Tarkovski. Outro filme com o qual Sudoeste parece dialogar é O cavalo de Turim, de Bela Tarr. Todos tratam da relação do homem (e do cinema) com o tempo. Qual sua visão sobre o trabalho desses autores?

São três autores que admiro muito, sem dúvida. Ainda não vi O CAVALO DE TURIM, mas me disseram que o primeiro plano é muito parecido com o primeiro plano do SUDOESTE. Mas existem também influências de realizadores mais narrativos, como Léon Hirzman, David Lean e Sergio Leone. Mas, com certeza, Tarkovski é a influência maior. Não apenas pelo seu cinema, mas por todo seu respeito à vida, que é tão belamente contado no livro ESCULPIR O TEMPO. Tarkovski consegue demonstrar que o cinema pode ser algo único, um momento que conseguimos compartilhar uma experiência espiritual durante uma projeção.

Como foi feita a escolha do elenco?

A escolha do elenco aconteceu por conhecimento prévio do trabalho de cada um dos atores. Todos eles possuem uma carreira muito respeitada ou no cinema, ou no teatro (ou em ambos). Daí a qualidade do trabalho destes atores estava mais do que comprovada. Precisava apenas saber como cada um deles iria funcionar com o respectivo personagem e com a proposta do filme: que possui poucos diálogos e tempos longos. Mas o primeiro contato com cada um deles foi uma longa conversa; ali já foi possível perceber como funcionariam no filme.

Com que nível de preparação os atores chegaram no set de filmagem?

Optei por não fazer ensaios, apenas uma leitura do roteiro e muitas conversas sobre o filme. Criou-se, então, uma relação de confiança e cumplicidade. Acredito que um bom ator pode acrescentar muito mais do que normalmente pedimos dele, ele pode desenvolver uma relação de aproximação com o personagem muito mais íntima do que você, como diretor, conseguiria, pois está envolvido em vários processos do filme. A conversa com os atores permite dividir com eles todo o processo dramatúrgico. E num filme como este, onde existem poucos diálogos e muitos sentimentos transmitidos com recursos de interpretação econômicos, o mais importante na filmagem é que estes atores vivam seus personagens com verdade no momento em que a câmara começa a rodar, e isso só é possível quando confiamos neles totalmente.

O filme tem uma delicadeza que revela o seu carinho pelos personagens. O que você sente por eles?

Realmente tenho um carinho muito grande pelos personagens. Convivi com eles em todo o processo de elaboração do roteiro (que foi muito longo) até o momento em que eles começaram a tomar forma: com a escolha dos atores, figurino, cabelo e maquiagem. A personagem Clarice é especial: compartilho com ela uma vontade de estar sempre descobrindo o mundo; o João é de uma generosidade muito grande, com muito amor pela sua irmã, mãe e até mesmo pelo seu pai; Luzia e Conceição são mulheres que, de certa forma, vivem os mesmos dramas: a questão da afirmação como mulher numa comunidade regida pelos homens. Da mesma forma, acredito que Sebastião e Malaquias são duas faces do mesmo homem: um homem egoísta, autoritário, mas covarde.

bottom corner