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Enquanto milhões de pessoas são mortas nos campos de concentração concebidos pelos nazis, o comandante Rudolf Höss (1901-1947) e a sua mulher tentam transformar a vivenda que lhes foi atribuída, junto ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau (comandado por Rudolf), num lar aconchegante. Naquele espaço murado, cheio de flores e árvores de frutos, a família Höss leva uma vida tranquila, ignorando conscientemente tudo o que se passa lá fora: os cheiros, os sons e o terrível sofrimento das vítimas. Estreado no Festival de Cinema de Cannes, onde arrecadou o Grande Prémio do Júri e o FIPRESCI. Seguindo uma perspectiva diferente do Holocauso, e sem nunca mostrar o que se passa dentro do campo de concentração, este drama tem realização e argumento do britânico Jonathan Glazer, que se inspira no livro homónimo de Martin Amis.
Rudolf Höss, marido atento, pai amoroso, o maior assassino de Auschwitz José Marmeleira, Publico de 17 de Janeiro de 2024 Análise a “A Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer. Como diz Arendt, as SS procederam à destruição “fria e sistemática de corpos humanos, calculada para aniquilar a dignidade humana”.
Em A Zona de Interesse, há uma cena em que observamos Rudolf Franz Ferdinand Höss (Christian Friedel), o primeiro comandante de Auschwitz, numa série de prosaicas tarefas. Vemo- lo a desligar, um a um, os interruptores e os candeeiros da casa, a fechar, sem ruído, as portas das divisões, a descalçar, sem se desequilibrar, o seu calçado. Vê-lo-emos, ainda, a levar, nos braços, uma das filhas à cama, depois de a consolar. Foi um pai extremoso, este oficial das Schutzstaffel (SS), enigmático homicida nazi que, na última meia hora do filme, encontraremos preocupadíssimo com a sua nova tarefa: exterminar 438 mil judeus húngaros – homens, mulheres, crianças, bebés.
Sobre esta “tarefa”, Hannah Arendt diz-nos, em As Origens do Totalitarismo (1951), o que ela foi: um verdadeiro horror que começara quando as SS tomaram a seu cargo a administração dos campos. Com essa alteração, “a antiga bestialidade espontânea [das SA] cedeu lugar à destruição absolutamente fria e sistemática de corpos humanos, calculada para aniquilar a dignidade humana”.
Mas tanto do horror como da destruição pouco vemos, senão indícios sinistros. Um muro separa- nos, no filme de Jonathan Glazer, da produção em massa de cadáveres humanos, daquilo que lembrou a Arendt, “antes de mais nada, as pinturas medievais do Inferno”.
Não vemos, embora saibamos que o horror e o terror se encontram do outro lado do muro, no interior dos campos e nisso, poderíamos acrescentar, Glazer respeita, em certa medida, as premissas de Claude Lanzmann, o cineasta de Shoah (1985): aqueles crimes – de tão impensáveis – não podem ser representados senão pelo verbo. O próprio Lanzmann viria a tornar- se menos intransigente na sua posição (elogiando O Filho de Saul, de László Nemes, filme de 2015 que conduzia, com o medo e a culpa do Sonderkommand (Géza Röhrig), o nosso olhar); e, acrescente-se A Zona de Interesse resulta de uma adaptação de outra obra, o livro homónimo do escritor inglês Martin Amis (1949-2023).