CINECLUBE DE JOANE

Outubro 2024
Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão

Programa mensal

de Basil da Cunha
3 OUT 21h45
de Francis Ford Coppola
10 OUT 21h45
de Rodrigo Moreno
24 OUT 21h45
de Maurice Pialat
31 OUT 21h45

As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.

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3 21h45

MANGA D'TERRA Basil da Cunha

Terceira longa-metragem do luso-suíço Basil da Cunha - depois de “Até Ver a Luz” (2013) e de “O Fim do Mundo” (2019), também eles sobre a vida na Reboleira (Amadora) - “Manga d’Terra” conta a história de Rosa, uma jovem que deixa os filhos pequenos em Cabo Verde e chega a Portugal determinada a singrar na vida. Mas adaptar-se aos bairros da Reboleira, na periferia de Lisboa, é mais difícil do que poderia esperar e ela vê-se constantemente enredada na dinâmica entre os gangues do bairro e da própria polícia, que há muito deixou de fazer a distinção entre os verdadeiros criminosos e as pessoas de bem. Será na música e na generosidade demonstrada pelas mulheres da comunidade, que Rosa vai encontrar a força para seguir em frente. Com a cantora cabo-verdiana Eliana Rosa a dar vida a Rosa, a protagonista, “Manga d’Terra” conta também com a participação de vários moradores e ex-moradores do bairro da Reboleira. A banda sonora é da responsabilidade dos músicos cabo-verdianos Luís Firmino e Henrique Silva, criadores do colectivo Acácia Maior.

Título original: Manga d'Terra (Portugal/Suiça, 2023, 95 min)
Realização, Argumento e Montagem: Basil da Cunha
Interpretação: Eliana Rosa, Vera Semedo, Lucinda Brito, Nunha Gomes, Evandro Pereira
Produção: Palmyre Badinier, Basil da Cunha, Nicolas Wadimoff
Música: Luis Firmino, Eliana Rosa
Fotografia: Patrick Tresch
Distribuição: Nitrato Filmes
Estreia: 6 de Junho de 2023
Classificação: M/14
Manga d’Terra: as mulheres do bairro Luís Miguel Oliveira, Publico de 6 de Junho de 2023 Este é um filme que flutua, como a câmara do realizador Basil da Cunha quando segue Eliana Rosa.
Manga d'Terra mantém e solidifica o princípio geral dos filmes de Basil da Cunha: filmar um espaço, aquele bairro da Reboleira que é o cenário de todos os seus filmes, um espaço acossado de várias formas. E agora, até pela iminência da demolição, a conferir-lhe uma dignidade que ultrapassa todas as medidas políticas ou sociológicas para se tornar uma questão de cinema e de olhar de cinema. O que Manga d'Terra traz de novo, ou que talvez não estivesse desta forma nos filmes anteriores, é uma abertura a um romantismo sonhador, capaz de planar, de se elevar, sobre a “realidade”. Um romantismo que é soprado pela importância que a música tem no filme, e muito especialmente as canções de Eliana Rosa, uma série de números musicais que são registados no momento, em som directo, sem artifícios de pós-produção.
Até a maneira como a irrupção da música é retardada – o primeiro momento cantado demora algum tempo a aparecer – contribui para intensificar o seu poder. Mas quando vem esse momento, num longo plano cheio de movimento a acompanhar a deambulação de Eliana pelas ruas nocturnas do bairro, é mesmo um sopro especial que se sente – como se Basil da Cunha tivesse descoberto uma fórmula de “realismo musical”, como se redimensionasse, com felicidade, algumas das melhores tradições do cinema musical. A escala será outra, mas a ambição pode ser a mais alta: ser luxuoso com o que tem, fazer da Reboleira uma Broadway.
A presença de Eliana como protagonista também desloca o filme para o lado feminino. É verdadeiramente um filme do ponto de vista das mulheres, o dela, Eliana, e o das várias amigas e companheiras com que se cruza. São os homens que ficam debaixo do fogo do olhar delas, e sobretudo, da verrina da língua delas – certas cenas, como aquela do cabeleireiro que regista uma conversa entre várias mulheres, são muito divertidas, não apenas verbalizam uma “crítica do machismo” como lhe injectam uma frescura que vem do humor (e de resto, de um modo geral, este é o filme de Basil da Cunha onde os diálogos são mais importantes e, sobretudo, mais divertidos).
Mas também por isso este é um filme que flutua, como a câmara do realizador quando segue Eliana. Flutua entre tons: o humor das suas observações sobre a vida no bairro e o dramatismo das suas observações sobre as ameaças que pesam sobre o bairro (as internas, como a droga, e as externas, como o acossamento policial). A ligar uma coisa e outra, espécie de fil rouge que o filme nunca perde, a personagem de Eliana, Rosinha, e a sua melancolia nostálgica, ao mesmo tempo muito doce e muito ferida, e que também flutua entre a observação e a acção, entre a esperança e os golpes que a atingem. E vai tudo em crescendo: a sequência musical final, que está entre o “sonho” e uma espécie de flash-forward, é certamente a coisa mais bonita que Basil da Cunha já filmou.