CINECLUBE DE JOANE

Janeiro 2025
Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão

Programa mensal

de Ryusuke Hamaguchi
2 JAN 21h45
de Sean Baker
9 JAN 21h45
de Pedro Costa
16 JAN 21h45
de Ali Abbasi
23 JAN 21h45
de Maurice Pialat
30 JAN 21h45

As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.

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9 21h45

ANORA Sean Baker

A vida de Anora, uma jovem “stripper” cheia de sonhos, muda radicalmente quando conhece Ivan, que se apaixona por ela e lhe pede a mão em casamento. Depois de uma breve cerimónia em Las Vegas, os dois vivem momentos de pura paixão e entrega. Mas ele é filho de uma poderosa família de oligarcas russos e quando as notícias chegam aos seus ouvidos, decidem viajar até Nova Iorque para anular o casamento e levarem Ivan de volta ao seu país. Filme vencedor da Palma de Ouro na edição de 2024 do Festival de Cinema de Cannes, Anora é uma comédia romântica assinada por Sean Baker, realizador norte-americano dos filmes Tangerine e The Florida Project.

Título Original: Anora (EUA, 2024, 135 min)
Realização, Argumento e Montagem: Sean Baker
Interpretação: Mikey Madison, Mark Eydelshteyn, Yura Borisov, Karren Karagulian
Fotografia: Drew Daniels
Música: Matthew Hearon-Smith
Produção: Alex Coco, Samantha Quan, Sean Baker
Estreia: 31 de Outubro de 2024
Distribuição: Cinemundo
Classificação: M/16
Anora, Palma de Ouro em Cannes: conto de fadas moderno que bebe dos clássicos certos, Jorge Mourinha, Publico de 30 de Outubro de 2024 Transportado pela energia desesperada de uma actriz que soube agarrar o seu papel, Anora é uma Palma de Ouro perfeitamente merecida. Estreia-se quinta-feira em Portugal.
Se Steven Soderbergh tem sido o grande cronista da América como espaço transaccional, onde tudo se resume ao dinheiro, Sean Baker (de quem as salas portuguesas apenas receberam, salvo erro ou omissão, Tangerine e The Florida Project) é o cronista de uma América onde a inocência e a humanidade estão sempre em jogo ao lado das questões financeiras.
Talvez em nenhum dos seus filmes isso seja tão visível como em Anora, Palma de Ouro em Cannes 2024, irresistível retrato de mulher que ainda acredita nos contos de fadas por baixo de uma armadura de private dancer (para citar Tina Turner) que não deixa que lhe comam as papas na cabeça.
Anora pode fazer de Mikey Madison uma estrela tal como Pretty Woman lançou Julia Roberts, e não o dizemos apenas por o filme de Sean Baker ser uma versão realista, nova-iorquina, da fantasia romântica de Garry Marshall. A sua Anora (que prefere ser Ani para se integrar e não trazer ao de cima as suas raízes imigrantes de Leste) tem perfeita noção de vender sonhos por dinheiro. E sabe que a sorte grande que lhe saiu ao aceitar ser a acompanhante de um filho de um oligarca russo durante alguns dias é um episódio temporário; como uma encenação onde todos têm consciência perfeita do seu papel e onde não há expectativas para lá do momento. Mas, quando alguém se recusa a desempenhar o seu papel e começa a improvisar, é possível que o sonho se torne realidade, e que a sorte grande seja realmente um anel de noivado com três quilates e uma vida de luxo?
É nessa corda bamba que Madison instala Anora, ao ver-se casada de improviso com um Ivan que tem muito dinheiro e pouca cabeça, e, de repente, alvo dos guarda-costas do pai de Ivan que não acharam graça ao impulso do menino mimado.
A actriz tempera magnificamente a ingenuidade de acreditar num final feliz para o seu sonho com a dureza de uma rapariga das ruas que não se fica quando se metem com ela — o segundo acto de Anora, aliás, tem muito de comédia screwball no modo como os guarda-costas do pai provam não estar preparados para a garra de Anora. E revela também que o filme de Sean Baker conjuga uma solidez narrativa a toda a prova herdada da Hollywood clássica (Anora podia ser uma “comédia do divórcio” em três andamentos) com a modernidade de uma rodagem em espaços reais da Nova Iorque “russa”, onde o mundo real penetra em permanência a ficção sem se limitar a ser cenário ou a emprestar cachet.
É nestes espaços liminares onde a classe operária e a burguesia endinheirada se cruzam que Sean Baker tem instalado muito do seu cinema. É aqui, nesta metáfora da exploração do trabalho sexual como ilusão de romance por aqueles que têm dinheiro e poder suficiente para a desfazer com um estalar de dedos, que Anora se torna num belíssimo filme: a história da prostituta tesa (em todos os sentidos da palavra), mas com um coração de ouro que encontra o amor onde menos se espera é também um retrato da sobrevivência possível àqueles que vivem nas margens nos dias que correm.
Uma Palma de Ouro perfeitamente merecida, uma prova de que o cinema americano não está moribundo.