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Glória - Ivan vai viver com o pai, Vicente, chefe da estação dos caminhos-de-ferro, numa
povoação perdida no interior de Portugal. As pessoas andam ocupadas com as suas tarefas, cada
uma enredada na sua vida. Glória vive com a sua ama e parece estar a afastar-se de tudo e
todos. Afastado de todos está o refúgio secreto, único local seguro no planeta. Ivan é feliz por
partilhar o segredo de Glória, um pequeno paraíso
escondido no rio, debaixo da água que separa os
mundos. Apetece ficar aqui.
Tio Tomás: a Contabilidade dos Dias - A partir das memórias afectivas e visuais da minha
infância, este filme pretende ser uma homenagem ao meu tio Tomás, um homem humilde e um
pouco excêntrico que teve uma vida simples e anónima. Com este filme eu gostaria de
testemunhar como não é preciso ser-se alguém.
para se ser excepcional na nossa vida.
O dia de Glória em Berlim _ entrevista à realizadora Manuela Viegas Vasco Câmara, em Berlim, Público de 18 de Fevereiro de 1999 É a primeira vez que um filme português concorre no Festival de Berlim. Chama-se "Glória" e é a estreia na realização da montadora de cinema Manuela Viegas. Uma estação de comboios que vai fechar, um rio, um bosque queimado que pode estar povoado por bruxas, o ódio entre dois irmãos e dois adolescentes que brincam nas ruínas disso tudo. Um acontecimento para o cinema português, em tempo de pujança: 1998 foi um ano de mais estreias, em mais salas, com mais espectadores. O PÚBLICO foi saber se estamos perante uma reconciliação entre quem filma e quem vê. Manuela Viegas tem medo, "muito medo". "Glória", a sua estreia na longa-metragem, passa hoje em competição no Festival de Berlim, acontecimento inédito para o cinema português. "É uma primeira obra e está em competição em Berlim! É extraordinário. É uma maneira de fazer com que o filme não passe despercebido. Para os actores é mais emocionante, para o meu trabalho futuro também não é mau, é uma oportunidade para que futuras propostas não sejam logo postas de lado. Para não falar dos contactos. Mas o filme começou por ser chamado para a secção Forum Internacional do Jovem Cinema, o que já era honroso e onde os filmes são olhados com cuidado. O meu medo é que 'Glória' não seja visto com delicadeza e com tempo. Se é olhado com pressa, o filme não passa bem". Manuela Viegas, uma licenciada em economia pela Universidade do Porto que fez o curso de cinema do Conservatório de Lisboa e tem trabalhado como montadora de cinema, assistente de realização e argumentistas, receia que o peso de nomes como os de David Cronenberg, Robert Altman, Terrence Malick, Bertrand Tavernier ou Claude Chabrol afecte a descoberta de "Glória". Ou que a lógica competitiva retire, a quem assiste ao filme, a disponibilidade de se deixar invadir por uma mancha de personagens que se move para uma noite negra, quase de terror, que parece não ter fim. Por falar em território: há um, geográfico, algures na zona de Sardoal, vila à beira Tejo mesmo perto do meio de Portugal, "numa encruzilhada entre o Ribatejo, a Beira Baixa e Alentejo", com uma estação de comboios que vai fechar, uma povoação onde vivem velhos e crianças, um rio e um estaleiro onde vive um mundo afastado do resto; sobre este mapa, Manuela Viegas põe em circulação um outro território, de ficção, uma série de personagens, "daquelas que se inventam e que têm a ver com experiências por que passamos, coisas de todo o lado, livros, histórias da família ou de outros filmes". É aqui que podemos ter a pretensão de saber quem são Glória e Ivan (Raquel Marques e Francisco Relvas), adolescentes que brincam em ruínas - "para as crianças, ruínas é o melhor sítio que há para fazer planos, brincar, subir, descer, cair; e é nas ruínas que se ouvem sons, vozes". Ou então tentar perceber os segredos de um incêndio, do ódio que se interpõe entre Vicente, um pai de mãos queimadas que é uma figura amputada (Jean Christophe Bouvet), e o seu irmão Mauro (Ricardo Aibéu). Ou tentar ouvir os silêncios das crianças abandonadas pela emigração e das mulheres que se oferecem como mães. "Estive à vontade para povoar aquele território de ficção. No fundo, é um conjunto de pólos que existe pelo interior do país, algumas personagens conheci-as em sítios remotos onde vivi, mas também formam uma espécie de território de ficção". Porque há bosques queimados, daqueles que também parecem inventados, podem-se imaginar bruxas, e uma barcaça servirá de refúgio e túmulo a Glória e Ivan. Quando damos por isso, a mancha estendeu-se da ficção juvenil e dos rituais de passagem para uma efabulação secreta, que mete medo e é quase gótica. "Eu não falaria de fantástico; diria que há um universo que é feito não de acontecimentos demasiado ligados à realidade mas de possibilidades. Há ali um universo fechado, povoado por espécies de fantasmas", diz Manuela Viegas. "A zona onde filmámos foi devastada por grandes fogos em 1995", conta. "O que há ali, industrialmente e como povoamento, é uma actividade ligada à extracção de madeiras. E, como resultante dos incêndios, os rapazes da zona ocupam-se a descascar pilhas de troncos calcinados", como se vê algumas personagens fazer. "Mas não me interessava nada do que fosse ligado aos estudos sociais, dar explicações ou interpretações sobre algum problema. Interessavam-me os restos, as marcas disso; os vestígios que ficavam nos troncos de árvores calcinados, nos caminhos, nas casas, nas ruínas. Marcas das actividades das pessoas. São personagens que passam por sítios que estão marcados pelo resto do mundo. Tudo o que fosse demasiado forte como metáfora ou demasiado amplo como generalização não me interessava. Interessava-me reduzir, despojar, e com isso conseguir uma reacção magnética e prender o espectador". Isso existe: um magnetismo ácido. De metal. "Glória" começou por se chamar "Brincando com Machados". Vêem-se poucos machados, ninguém de facto brinca com eles. Mas se as bruxas não se vêem e estão lá, há machadadas irreversíveis nas ruínas do interior das personagens. "Brincando com Machados” tornou-se um título complicado porque levava o filme para um lado infantil, de brincadeiras de índios, o que era redutor. Houve outro título, 'Cada um com a sua noite', e quer um quer outro são versos de Paul Celan". Era assim, conta Manuela Viegas: "Brincando com machados à sombra de cadáveres levantados".