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Partindo de uma série de fotografias de prisioneiros políticos, Susana Sousa Dias ("Natureza Morta) volta a centrar-se no período do Estado Novo e realiza um documentário sobre os 48 anos de ditadura em Portugal (1926-1974). Mostrando os rostos das vítimas da PIDE, pretende-se que o espectador observe cada imagem ouvindo, em voz off, o depoimento vivo da pessoa em questão, usando as pausas e os silêncios como meio de reflexão. Para Sousa Dias, o filme "procura operar na zona entre o que a fotografia mostra e o que ela não revela; mas também entre a analogia e a estranheza, o enunciado e o vivido, a imagem e a memória." GRAND PRIX 2010 no Cinéma du Réel, França
Nota da Realizadora Quando, há alguns anos atrás, em resposta a um pedido meu, a direcção do Arquivo da PIDE / DGS recusou a autorização para filmar as fotografias dos presos políticos, eu estava longe de saber que um novo filme iria começar a desenvolver-se. Estávamos em 2003 e eu encontrava-me em plena realização de Natureza Morta. O filme dependia dessas imagens, algumas das quais eu própria já tinha filmado em 2000. Nessa época, registar essas fotografias não requeria qualquer tipo de autorização especial, a não ser a que era dada pelo próprio arquivo. Mas a direcção do arquivo entretanto mudara e com ela a interpretação da lei.
Após insistência, a direcção justificou o motivo da recusa invocando o “direito à imagem”: para filmar as fotografias, eu teria de obter o acordo dos presos políticos. No caso de estes terem entretanto falecido, teria então de obter não só a autorização dos herdeiros, como também de apresentar uma cópia da certidão de óbito. Não vou referir aqui os pormenores do complexo processo que me levou, ao fim de alguns meses, a obter as devidas autorizações. Nem me vou deter nos efeitos perversos que pode provocar a aplicação do “direito à imagem” às fotografias impositivamente captadas pela polícia política de um regime ditatorial que durou 48 anos. Refiro apenas que, em todo este processo, falei com dezenas de antigos presos políticos.
Inevitavelmente, comecei a ouvir as suas histórias, algumas acompanhadas por comentários às próprias imagens de cadastro: “Está a ver a camisola que eu tenho vestida?”; “Sabe por que eu estou com este sorriso?”; “Já reparou no meu cabelo?”. 48 partiu de uma certeza: a de que é possível contar uma história do regime ditatorial português (1926-1974) apenas através destas imagens. Mas partiu também de muitas interrogações. Os rostos fotografados pela PIDE fitam- nos, interpelam-nos, perturbam-nos. Como filmá-los, mantendo a integridade desta interpelação? Que duração atribuir a cada plano para que o espaço de ecos e ressonâncias que cada rosto comporta, possa ter existência? Como se transfigura uma imagem através da duração que lhe é imposta? Quanto tempo aguenta um grande plano em “grande plano”? Qual o equilíbrio entre as palavras e os silêncios para que a imagem não fique inteiramente possuída pelo texto?
E como construir um espaço que mais do que físico é conceptual?
48 procura operar na zona entre o que a fotografia mostra e o que ela não revela; mas também entre a analogia e a estranheza, o enunciado e o vivido, a imagem e a memória. Pois estas fotografias também são tempo: o tempo contido dentro da fracção de segundo em que o preso enfrenta o opositor; o tempo que nos permite entrar dentro do universo enclausurante das prisões políticas e estar dentro do instante onde se cruza o outrora com o agora; um templo múltiplo que extravasa as noções de passado, presente e futuro.
Através de uma linha narrativa que toma como base as acções da polícia política sobre o corpo e a mente dos prisioneiros e de um dispositivo que procura evidenciar a pregnância temporal da imagem, o filme organiza-se através de um conjunto de sequências, cada uma delas comportando um silêncio específico. Estes silêncios não só criam o espaço cinematográfico do filme como nos dão a sentir a própria presença corporal de cada um dos ex-prisioneiros, hoje. Através das suas palavras, o filme procura desvelar as imagens cuja função original - captar os sinais distintivos da fisionomia e servir de instrumento de identificação (mas também de poder) - ainda hoje cria um véu que as impede de serem realmente vistas.
O que nos mostram e escondem estas imagens?