CINECLUBE DE JOANE

Abril 2024
Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão

Programa mensal

de Justine Triet
4 ABR 21h45
de Wim Wenders
11 ABR 21h45
de Mark Cousins
16 ABR 21h45
de Susana Sousa Dias
17 ABR 21h45
de Aki Kaurismäki
25 ABR 21h45

As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.

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18 21h45

Um Corpo Que Dança - Ballet Gulbenkian 1965-2005 Marco Martins


50 x 25 de Abril

Encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian, com produção da Vende-se Filmes e o apoio da RTP, “Um Corpo que Dança” tem autoria de Marco Martins – realizador de "Alice" (2005), "Como Desenhar Um Círculo Perfeito" (2009) e “São Jorge” (2016) – e traça o percurso do Ballet Gulbenkian, considerada uma das maiores companhias de dança portuguesa do século XX. Apoiando-se em imagens de arquivo e entrevistas a criadores, a historiadores, a bailarinos e a ex- directores, o realizador mostra-nos a história desta companhia, desde o seu início, em 1965, até à sua extinção em 2005. Ao mesmo tempo, é mostrado todo o contexto político, económico e social de Portugal ao longo desses 40 anos.

Título original: Um Corpo Que Dança - Ballet Gulbenkian 1965-2005 (Portugal, 2022, 125 min)
Realização e Argumento: Marco Martins
Montagem: Rita Quelhas e Catarina Lino
Música: Filipe Raposo
Produção: Filipa Reis
Distribuição: Vende-se Filmes
Estreia: 15 de Junho de 2022
Classificação: M/12
A cultura, quando nasce, é para todos Jorge Mourinha, Publico de 15 de Junho de 2022 Um Corpo que Dança é o melhor filme de Marco Martins até hoje, é um extraordinário olhar para um país em mudança através da lente de uma companhia de bailado.
Vamos, por um momento, pôr de lado o facto de, no papel, Um Corpo que Dança ser uma “história” do Ballet Gulbenkian desde as suas origens até ao seu encerramento em 2005. Porque o que está no ecrã, sendo isso, é muito mais do que isso e é muito mais interessante do que “apenas” isso.
Primeiro, porque todo o filme é montado a partir de material de arquivo. Isto é, não há entrevistas de “cabeças falantes” (embora elas existam, em voz off), mas apenas imagens de época, dos arquivos da RTP, da Cinemateca e outros. E, nesse processo, Martins não desenha apenas a evolução de uma companhia; desenha também a própria evolução da arte do bailado em Portugal, do modo como as coisas mudaram – foram mudando – com a aposta numa companhia permanente, como o bailado começou a ser uma opção de vida também cá dentro e não exclusivamente lá fora.
E isto leva-nos à segunda razão pela qual Um Corpo que Dança transcende o seu tema. É que, nesse recurso ao arquivo para ilustrar a história do Ballet Gulbenkian, Martins conta-nos também a história da cultura em Portugal durante os 40 anos de existência da companhia, do salazarismo à “Primavera Marcelista” passando pelo 25 de Abril e pela adesão à União Europeia. Vemos, nestas imagens elucidativamente montadas, um país e uma sociedade em mudança, uma tentativa de dar à cultura “cartas de nobreza” num Portugal que começa ainda fortemente analfabeto e conservador. Se o Ballet Gulbenkian é apresentado, aqui, como uma ideia que teve o seu tempo e que terminou quando a sua existência já não era essencial (como se dá a entender), isso é também porque o próprio país mudou de uma maneira que as imagens, judiciosamente escolhidas, revelam de modos inesperados.
Mais do que apenas um registo para memória futura, Um Corpo que Dança é no seu trabalho de memória e montagem um espantoso olhar sobre Portugal e a sua relação com a arte e a cultura, que pensa a História enquanto a conta e leva o espectador a ter um outro olhar, uma outra posição perante o modo como, ainda hoje, o nosso país as encara como algo de lateral, de separado da realidade. O que Marco Martins faz – naquele que, para nós, é definitivamente o seu melhor filme até hoje – é provar que não o são: que o Portugal livre e democrático de 2022 também o é porque houve quem percebesse que um povo não está completo sem uma cultura livre e exploradora. Um Corpo que Dança não é só um documentário sobre bailado, é uma história de 40 anos de Portugal por interposta arte. E, por isso mesmo, num país que tão pouco acarinha a sua história cultural, é uma obra imperdível.