As sessões realizam-se no Pequeno auditório da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia, 30 minutos antes do início das mesmas.
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Ao Palace Hotel, castelo extraordinário de atmosfera gótica nos Alpes suíços, convergem os
obscenamente ricos de todo o mundo para a festa de Ano Novo de 2000. A 31 de dezembro,
Hansueli, o dedicado gerente, inspecciona o pessoal com zelo quase militar. Uma horda de
empregados de mesa, paquetes, chefes de cozinha e recepcionistas prepara-se para atender as
exigências dos hóspedes mais extravagantes. Enquanto se aproxima a aurora do novo milénio o
ambiente é tenso. Correm rumores sobre o Bug do Milénio e o caos financeiro que ele trará
consigo. Por baixo da superfície civilizada, o caos aguarda e as histórias de cada personagem dão
vida a uma comédia absurda, negra e provocadora. Filme da seleção oficial do Festival de Veneza
2023, fora de competição.
Na abertura da sessão, no âmbito da rede shortcutz, será exibida a curta-metragem
Musgo (2021, 15 min) de Alexandra Guimarães, Gonçalo L. Almeida: Uma menina é atraída
para o interior de um castanheiro, iniciando uma viagem mística pela região de
Trás-os-Montes. "Musgo" é uma docuficção etnográfica que explora expressões culturais
e afetivas de herança pagã no norte de Portugal.
Celebrando as virtudes da comédia João Lopes, DN Roman Polanski está de volta como uma comédia em que reencontra o humor cáustico das suas raízes polacas: 'O Hotel Palace' faz o retrato de uma galeria de personagens bizarras que se reúnem para celebrar a chegada do ano 2000.
Em 1995, Kathryn Bigelow realizou Estranhos Prazeres, uma fábula amarga sobre o progresso tecnológico, “antecipando” um futuro próximo, ou seja, os últimos dias do ano de 1999. Dir-se-ia que O Hotel Palace, o filme de Roman Polanski revelado no último Festival de Veneza, funciona como uma versão paródica de tal situação, transfigurando as inquietações da ficção científica numa sátira de implacável humor. Tudo acontece no cenário exuberante do lendário Gstaad Palace, na Suíça, acolhendo uma galeria de personagens mais ou menos bizarras que vêm celebrar a noite de entrada no ano 2000.
A lista de hóspedes desafia qualquer descrição objetiva. Convivemos, assim, com a marquesa sexualmente ansiosa que tem um cãozinho que gosta de pinguins (não é gralha: pinguins); há também um ricaço (ou talvez não) que prepara um golpe bancário, aproveitando as confusões informáticas do final do milénio; sem esquecer o cirurgião plástico cujo talento razoavelmente discutível se reflete no rosto insólito (não agravemos a descrição) de algumas senhoras… Através de tais exemplos - interpretados, respetivamente, por Fanny Ardant, Mickey Rourke e Joaquim de Almeida -, compreendemos que os atores foram desafiados para uma performance que cumprem com contagiante alegria: trata-se de assumir figuras caricaturais que, de modo mais ou menos perverso, espelham as ilusões mercantis deste mundo em que a felicidade passou a ser um “tema” do marketing.
Convém não ficarmos pela (falta de) memória que o marketing quase sempre exibe, por exemplo quando, no cartaz de O Hotel Palace, identifica Polanski como o cineasta de O Pianista (2002) e J’Accuse (2019). Certíssimo, sem dúvida, mas vale a pena recordar que as raízes criativas de Polanski envolvem também o gosto de um humor cáustico, por vezes à beira do surreal, em que a comédia negra nunca é estranha a uma metódica demarcação das teias da hipocrisia moral. Lembremos, por isso, as suas primeiras curtas-metragens, rodadas ainda na Polónia natal, incluindo Dois Homens e um Armário (1958). E também Cul de Sac - O Beco (1966), Por Favor, Não Me Morda o Pescoço (1967), primeiro título de Polanski em Hollywood, ou ainda esse prodigioso conto do absurdo que é What? (1972), cuja atriz principal, Sydne Rome, reaparece em O Hotel Palace.
Claro que o novo filme não possui a complexidade narrativa nem a sofisticação simbólica dos já citados O Pianista e J’Accuse, ou ainda de O Escritor Fantasma (2010) - são, a meu ver, os melhores filmes de Polanski no século XXI. O que, bem entendido, não impede que lhe reconheçamos a capacidade de elaborar uma ficção que, da teatralidade dos cenários à cuidadosa direção de actores (sem esquecer a música saltitante de Alexandre Desplat), renova a energia de um humor de raiz polaca a que pertence também, por exemplo, Jerzy Skolimowski. Com uma “coincidência” que importa sublinhar: Skolimowski e a sua mulher, Ewa Piaskowska, colaboraram com Polanski na escrita do argumento de O Hotel Palace.