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PROGRAMAÇÃO: OUTUBRO 2013
Sala de exibições
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão
IRMÃ de Ursula Meier_ 24 de Outubro de 2013
Sinopse
Aos 12 anos, Simon (Kacey Mottet Klein) vive com sua irmã Louise (Lea Seydoux), no
vale industrial de uma estância de esqui na Suíça. Sobrevivem ambos com o material que o rapaz
todos os dias rouba aos turistas ricos e que vende no vale. Ela é instável e quando perde o
emprego torna-se cada vez mais dependente do irmão. A vida de ambos equilibra-se numa linha
ténue, numa quase miséria. É então que Simon conhece um turista inglês que se aproveita do
negócio, algo que vem alterar a relação dos dois.
Um filme dramático sobre o desgosto, o conflito e a necessidade de reconciliação, realizado por Ursula Meier depois do sucesso de "Home - Lar doce lar" em 2008.
Festival de Berlim - Urso de Prata - Prémio Especial do Júri
Ficha Técnica
Título original: L'Enfant d'en haut (Suíça/França, 2012, 100 min)
Realização: Ursula Meier
Interpretação: Kacey Mottet Klein, Kacey Mottet Klein, Léa Seydoux, Martin Compston
Argumento: Antoine Jaccoud e Ursula Meier
Música: John Parish
Fotografia: Agnès Godard
Montagem: Nelly Quettier
Som: Henri Maïkoff
Produção: Denis Freyd, Ruth Waldburger
Estreia: 21 de Março de 2013
Distribuição: Midas Filmes
Classificação: M/12
Críticas
A criança no alto e no baixo
Luís Miguel Oliveira, Público de 21 de Março de 2013
A economia paralela de um rapaz só.
"Home", o anterior filme da suíça Ursula Meier, era o relato, extremo e quase absurdista, de uma família instalada à beira de uma auto-estrada. "Irmã" troca o absurdismo por um realismo absolutamente credível, mas mantêm-se os extremos. Porque “extrema” é a vida das suas personagens, um miúdo ladrão e aquela que começa por nos ser apresentada como sua “irmã”, uma rapariga já adulta mas aparentemente um bocado perdida na vida. Os roubos do miúdo são a base da economia familiar. Mas “extremo”, ou de extremos, é ainda o cenário: é literalmente o “alto” e o “baixo”, este par vive no sopé de uma montanha suíça, no topo da qual funciona uma estância de esqui frequentada por gente muito mais endinheirada (e muito mais “normal”) do que o rapaz e a sua irmã. Todos os dias o miúdo sobe do fundo ao topo, dedica-se a uma frenética recolecção de tudo o que apanhar a jeito, monta uma venda clandestina (de “skis” em segunda mão, justifica ele), e desde de novo ao seu “bas-fondas” com algumas dezenas de francos suíços no bolso.
A descrição desta economia paralela de um rapaz só é o ponto mais forte do filme, tanto mais que Meier se abstém de sublinhar o “comentário” social. O cenário exprime-o perfeitamente, como “diagrama” da miséria e da relação entre pobres e ricos, separados não por um fosso mas por um monte; exprime-o também pela imensidão branca e luminosa do topo, oposta à penumbra que é o território natural do pequeno ladrão. Todas as cenas com o miúdo em acção, a apanhar skis, mochilas, sandes, ou a fazer as suas negociatas, ou ainda a iniciar perfeitas comédias de “con artist” (a relação com uma turista inglesa), são impecáveis, como um aprendiz de pickpocket a descobrir o roubo como compulsão para além da necessidade.
Personagem suficientemente complexa (para mais com aquele fácies de pequeno Gainsbourg) para sentirmos que toda a história da relação com a irmã, sobretudo a partir do momento em que deixa de ser “irmã” (não diremos o que é de facto, mas está-se mesmo a ver), é mais um “atraso” do que um avanço, introduzindo umas gotas de psicologia familiar que nos parecem bastante mais banais do que a descrição do sistema económico de um rapaz só. Essa é a singularidade da obra, e é dela que Ursula Meier extrai a força de Irmã (ou de L''Enfant d''en Haut, “a criança do alto”, que é o título original). Vale a pena referir o “cast” traz algumas surpresas entre os secundários - Gillian Anderson (a dos X-Files) como turista inglesa, o grande Jean-François Stévenin como gerente do restaurante (e basicamente, “ogre”). Entre os colaboradores, também: a música é de John Parish, habitual parceiro de PJ Harvey; e no som trabalhou Henri Maikoff, bem conhecido em Portugal pelas suas colaborações com Manoel de Oliveira e Pedro Costa.
A família e os seus desequilíbrios
João Lopes, Cinemax (24 de Março de 2013)
Ursula Meier, a realizadora de "Home - Lar Doce Lar", regressa às salas portuguesas com "Irmã", um filme em que é especialmente importante contrariar as visões correntes da infância e da juventude.
Descobrimos Ursula Meier, cineasta franco-suíça, há cerca de três anos, com "Home - Lar, Doce Lar", uma aventura familiar que adquiria a dimensão de parábola sobre os malefícios do progresso. O seu novo filme, "Irmã" (título original: "L'Enfant d'en Haut"), distinguido com um Urso de Prata em Berlim/2011, prolonga a atenção às convulsões da família, mas num registo de contundente realismo social.
A grande virtude de "Irmã" decorre da sua capacidade de escapar, ponto por ponto, aos muitos lugares-comuns que, todos os dias (em especial na paisagem televisiva), envolvem as personagens infantis ou juvenis. Ela filma a odisseia amarga de Simon (Kacey Mottet Klein), um rapaz de 12 anos que vive numa espécie de exílio afectivo com a personagem que o título refere, Louise (Léa Seydoux), sobrevivendo graças aos roubos que ele fai consumando numa estância de ski alpino...
Escusado será dizer que estamos perante personagens e situações que resistem a qualquer simbolismo simplista. O que interessa Meier é a dimensão mais íntima (e, como o espectador perceberá, também mais secreta...) de uma família em permanente desequilíbrio, carente de figuras paternais e valores aglutinadores. Não por acaso, ela volta a dar provas de uma excelente direcção de actores.
O olhar realista do filme confirma que, nos mais diversos contextos da produção europeia, persiste a vontade, ao mesmo tempo temática e estética, de não fugir à complexidade das actuais estruturas sociais. Por razões obviamente incontornáveis, as crises e fronteiras do espaço familiar são assunto prioritário deste cinema. É, enfim, uma boa oposição ao moralismo corrente nas ficções telenovelescas.








