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PROGRAMAÇÃO: OUTUBRO 2013
Sala de exibições
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão
OS NOSSOS FILHOS de Joachim Lafosse
Sinopse
Murielle e Mounir (Émilie Dequenne e Tahar Rahim) são jovens, apaixonados e com esperança
num futuro a dois. Após o casamento, aceitam viver em casa do Dr. Pinget (Niels Arestrup), um
benfeitor que sempre ajudou a família de Mounir e que se tornou um segundo pai para ele. Porém,
com o passar dos anos e o nascimento dos filhos, o que seria uma situação provisória acaba por
se prolongar indefinidamente, quer por dificuldades financeiras do casal, quer por decisão de
Mounir, que sente ter uma enorme dívida de gratidão para com o velho senhor. Sentindo-se cada
vez mais distante do marido e mais presa a uma situação que nunca desejou, Murielle perde o
controlo da sua vida, seguindo em direcção a uma tragédia que ninguém poderia prever...
Com realização de Joachim Lafosse (“Nue Propriété” e “Folie Privée”) e argumento partilhado com Thomas Bidegain e Matthieu Reynaert, um filme dramático que se inspira na verdadeira história do casal Genevieve Lhermitte e Bouchaib Moqadem.
Ficha Técnica
Título original: À Perdre la Raison (Luxemburgo/Belgica/França/Suiça, 2012, 111 min)
Realização: Joachim Lafosse
Interpretação: Niels Arestrup, Tahar Rahim, Émilie Dequenne
Argumento: Joachim Lafosse, Matthieu Reynaert, Thomas Bidegain
Fotografia: Jean-François Hensgens
Som: Henri Maikoff, Ingrid Simon, Thomas Gauder
Montagem: Sophie Vercruysse
Produção: Versus Production, Samsa Films, Les Films du Worso, Box Productions, Prime Time, RTBF, RTS
Distribuição: Leopardo Filmes
Estreia em Portugal: 16 de Maio de 2013
Classificação: M/12 anos
Críticas
De perder a razão
Luis Miguel Oliveira, Público de 16 de Maio de 2013
Um filme desafectado, quase cruel, cujo triunfo repousa sobre os ombros de uma actriz: Emilie Dequenne.
Salvo qualquer erro, o mais célebre caso de quíntuplo infanticídio é o de Magda Goebbels, que Oliver Hirschbiegel não resistiu a ilustrar no seu filme ("A Queda") sobre os últimos dias do bunker de Hitler em Berlim. "Os Nossos Filhos", do belga Joachim Lafosse, colhe inspiração num caso menos célebre e mais recente, sucedido em 2007 na Bélgica (país que parece rivalizar com a Áustria em manifestações de um horror doméstico, entre quatro paredes), quando uma mulher de Nivelles estrangulou os seus cinco filhos pequenos.
Muito duro, evidentemente, mas feito com tacto e uma certa delicadeza: ao contrário do filme de Hirschbiegel nem se chega a ver uma só criança morta, resolvendo-se tudo entre um plano, logo no início, com um conjunto de caixõezinhos brancos a serem içados para dentro de um avião, e no final (pois a história surge em flashback) recorrendo a um uso pudico e inteligente do fora de campo.
Dando o desfecho logo ao princípio, e tratando de um acontecimento verídico, obviamente que o que interessa a Lafosse não é a reconstituição mas a pressuposição: imaginar o caminho seguido, na vida e na cabeça daquela mulher, até esse fatal momento “de perder a razão” (que é o título original do filme, À Perdre la Raison). Mas ainda assim, e mesmo se o filme, nas suas peripécias, propõe justificações narrativas para o desespero (a influência sufocante do “mentor” do marido sobre aquela relação e sobre aquela família), tem a sagacidade necessária para não fazer disso um A + B, uma linear relação de causa e efeito. A corrosão mental permanece inexplicável, emoldurada por um olhar sobre a “domesticidade” enquanto “opressão”, materializada pelo estilo “fechado” do filme, também quase sempre entre quatro paredes, mais personagens do que espaço, como um círculo que se aperta e se transforma em cerco. Há um pouco dos Dardenne nesta maneira de filmar, bem como neste olhar sobre a psicologia de onde se evacua, justamente, qualquer tradução literal para a psicologia - reinam a observação, o empirismo, de modo desafectado e quase cruel.
A protagonista, Emilie Dequenne, está à vontade neste registo: ela foi, há coisa de 15 anos, a jovem Rosetta do filme homónimo dos Dardenne. É sobre ela que repousa o triunfo ou o fracasso de Os Nossos Filhos. Quando chega aquele longo plano em que, de perfil, o seu rosto se desfaz ao som duma canção ouvida no auto-rádio, desfaz-se também a dúvida: Emilie triunfará, e com ela o filme.








