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PROGRAMAÇÃO: OUTUBRO 2013
Sala de exibições
Pequeno auditório
Casa das Artes de V. N. de Famalicão
Parque de Sinçães - V. N. de Famalicão
Por curiosa ironia, coube a Luchino Visconti erguer o porta-estandarte do cinema neo-realista em Itália através da sua primeira obra: Obsessão, de 1943, a partir “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes” de James M. Cain (transformada pelos americanos num clássico do filme negro, três anos depois). Sincronizado temporalmente com o movimento encorpado por Rosselini e De Sica, a obra de Visconti não poderia ser mais díspar da dos seus comparsas e daquele movimento. A extraordinária riqueza da obra de Visconti vive muito das suas contradições e vivências: descendente de uma família aristocrata, cedo ingressa no partido comunista italiano, envereda pela formação artística (o teatro e a ópera, que depois marcarão presença explícita na sua obra) e consuma uma ligação aos movimentos intelectuais de Itália e França. A primeira parte da sua obra, até 1960, é, em larga medida, entregue ao povo italiano, às suas vidas, contrariedades e inquietações. Em 1948, a convite do partido Comunista Italiano, Visconti ergue o magnífico A Terra Treme; rodado numa pequena aldeia piscatória da Sicília, e sem actores profissionais, o filme representa as dificuldades e as vivências dos pescadores, alternando o dispositivo ficcional com o documental, criando retratos e situações portentosas, inolvidáveis. Sempre distante do neo-realismo, no que concerne à linguagem, pois Visconti conseguia introduzir glamour na contemporaneidade, mostra-nos uma enorme Anna Magnani, em Belíssima, a interpretar uma mãe de classe baixa, obstinada na condução da filha ao sucesso. Com Rocco e os Seus Irmãos (1960), Visconti constrói um retracto pungente de uma família do sul de Itália, pobre e desenraizada a lutar pela sobrevivência no norte industrializado, em Milão. Em 1954, surge a rica excepção nesta leitura, com o incontornável Sentimento (que exibimos em Julho de 2003), primeiro olhar sobre a aristocracia e a sua decadência, com (a condensa) Alida Valli perdida de amores, e disponível para a desonra e humilhação, por um oficial desertor da força austríaca que ocupava a Itália em meados do século XIX. O Leopardo (de 1963, a partir de Lampedusa, que exibimos em Maio de 2003) funciona como uma nota de intenções para a segunda metade da obra de Visconti: um olhar desencantado sobre a aristocracia, com a impossibilidade de aceitar a mudança e o progresso. Segue-se a denominada trilogia germânica (1969-1972), que inclui Os Malditos, introdução de um Macbeth no florescimento do nazismo; depois Morte em Veneza, a partir de Thomas Mann, juventude e perdição, arte e decadência (do protagonista, da cidade), impossibilidade de futuro; a fechar a trilogia, Luís da Baviera, dissecação de um rei louco, devoto à arte e alienado. No regresso a Itália e já debilitado fisicamente, Visconti entrega o proganista de Violência e Paixão (1974) a Burt Lancaster que parece, em conjunto com o cineasta, ter resgatado o personagem O Leopardo, para o actualizar e construir um retracto em volta da solidão extrema de um professor reformado, ladeado apenas por uma imensidão de obras de arte. A encerrar a filmografia de Visconti, uma obra magistral: O Intruso (L'innocente); adaptação de um romance de Gabriele D'Annunzio, enquadrado no final do sec.XIX, resulta numa exposição cruel e terminal da aristocracia, com um protagonista masculino pleno de insatisfação, excessivo na sua devassidão. Os códigos de honra e a necessidade de perpetuação, inscritos na traição familiar, já nada podem aqui e a sexualidade é sinónimo de perdição e o caminho inevitável para a destruição e para a morte.
Vitor Ribeiro, Novembro de 2012
Sessão I
OBSESSÃO
Ossessione (Itália, 1943, 140 min)
Sinopse
Gino, um jovem e atraente vagabundo, pára num restaurante de estrada onde conhece Giovanna, a bela mulher
do dono. Giovanna sente-se insatisfeita com o seu casamento com Bragana, um velho com quem se casou por
necessidade. Gino e Giovanna apaixonam-se e como não se conseguem mais afastar um do outro, decidem
matar o marido. No entanto, Gino sente-se perseguido pela imagem do morto e, roído pela culpa, decide partir.
Mais tarde, apercebe-se que não consegue viver sem Giovanna e regressa. Primeira longa metragem de Visconti
realizada em 1942 e proibida por Mussolini que mandou queimar todas as cópias por considerar o filme
escandaloso e imoral.
Ficha Técnica
Realização: Luchino Visconti
Interpretação: Clara Calamai, Massimo Girotti, Dhia Cristiani
Argumento: Luchino Visconti, Mario Alicata, Giuseppe De Santis, Gianni Puccini
Produção: Libero Solaroli
Música: Giuseppe Rosati
Fotografia: Domenico Scala, Aldo Tonti
Montagem: Mario Serandrei
Classificação: M/12
Sessão II
A TERRA TREME
La terra trema: Episodio del mare (Itália, 1948, 160 min)
Sinopse
Em Aci Trezza, uma pequena aldeia de pescadores do sul da Sicília, os
pescadores pobres são forçados a vender o produto da sua pesca a
grossistas sem escrúpulos que lhes compram por muito pouco dinheiro o
que tanto lhes custou a pescar. António, o filho mais velho de uma
família tradicional de pescadores, revolta-se contra essa situação e
hipoteca a casa para arranjar dinheiro para começar a trabalhar por
sua conta e vender o peixe directamente na cidade mais próxima. Tenta
convencer os outros pescadores a seguirem o seu exemplo, mas sem
sucesso. Tudo corre bem até uma tempestade lhes destruir o barco que
era o seu ganha-pão. Segue-se a fome, a penhora da casa, a vingança...
Parece que o destino está contra eles. Este filme/documentário de Visconti é falado no dialecto siciliano e foi filmado na Sicília com os pescadores locais a fazerem de actores.
Ficha Técnica
Realização: Luchino Visconti
Interpretação: Antonio Arcidiacono, Giuseppe Arcidiacono, Venera Bonaccorso
Argumento: Luchino Visconti, Antonio Pietrangeli
Produção: Salvo D'Angelo
Música: Willy Ferrero
Fotografia: G.R. Aldo
Montagem: Mario Serandrei
Classificação: M/12
Sessão III
ROCCO E OS SEUS IRMÃOS
Rocco e i suoi fratelli (Itália, 1960, 168 min)
Sinopse
Uma família siciliana chega a Milão fugindo da pobreza e sonhando com uma nova vida no centro industrial do
norte do país. As suas esperanças e vidas chegam ao fundo do poço enquanto eles se destroem. Este filme é
uma sequela perfeita de "A Terra Treme", uma das primeiras incursões de Visconti no Marxismo. "Rocco e seus
Irmãos" foi brilhantemente interpretado por todo o elenco, incluindo um jovem Delon, uma magnífica Girardot e um
excelente Renato Salvatore, mas é a figura da mãe, Katina Paxinou, o papel mais notável de todos. O drama da
emigração e do desenraizamento cultural numa das obras primas de Visconti. Uma família meridional parte para o
norte industrializado da Itália. Drama realista marcado por um pessimismo dostoievskiano, "Rocco e i suoi fratelli"
é uma magistral digressão pelos dramas da condição humana. [Cinemateca Portuguesa]
Ficha Técnica
Realização: Luchino Visconti
Interpretação: Alain Delon, Renato Salvatori, Annie Girardot, Claudia Cardinale
Argumento: Luchino Visconti, Suso Cecchi D'Amico, Pasquale Festa Campanile,
Massimo Franciosa, Enrico Medioli
Produção: Goffredo Lombardo
Música: Nino Rota
Fotografia: Giuseppe Rotunno
Montagem: Mario Serandrei
Classificação: M/12
Sessão IV
OS MALDITOS de Luchino Visconti
The Dammed (1969, 150 min)
Sinopse
Tudo começa na noite do incêndio do Reichstag em Fevereiro de 1933, e acaba depois da terrível "Noite das
facas longas" em Junho de 1934. E pelo meio um dos mais fascinantes estudos sobre a corrupção humana já
levados à tela: The Damned de Luchino Visconti, um filme de ambientes hipnóticos e um espantoso esplendor
visual. The Damned acompanha o declínio de uma família tradicional alemã e a simultânea ascensão do Partido
Nacional Socialista. Dick Bogarde interpreta o papel de um ambicioso manipulador que como um Macbeth
moderno tenta assumir o controle de um império familiar de aço e munições nas vésperas da campanha secreta
de Hitler para eliminar toda a oposição ao seu regime. Ingrid Thulin, Helmut Griem e Charlotte Rampling
interpretam outras personagens presas nas teias desta família e deste volátil clima político. E Helmut Berger
estreia-se como uma personagem inesquecível, o herdeiro de uma família, um atraente dandy que se torna numa
sinistra encarnação do mais puro mal.
Ficha Técnica
Realização: Luchino Visconti
Interpretação: Dirk Bogarde, Ingrid Thulin, Helmut Berger
Argumento: Luchino Visconti, Nicola Badalucco, Enrico Medioli
Produção: Ever Haggiag, Alfred Levy
Música: Maurice Jarre
Fotografia: Pasqualino De Santis, Armando Nannuzzi
Montagem: Ruggero Mastroianni
Classificação: M/12
Sessão V
MORTE EM VENEZA
Morte a Venezia (1971, 130 min)
Sinopse
O compositor Gustav Ashenbach (Dirk Bogarde), de férias no estrangeiro parece um homem reservado e
civilizado. Mas o encontro inesperado com alguém de rara beleza vai o inspirar a se entregar a uma paixão oculta
que pressagia um trágico destino. O realizador Luchino Visconti (Rocco e os seus Irmãos, Os Malditos)
transformam a obra clássica de Thomas Mann numa "Obra-prima de força e beleza" (William Wolf, Cue). Como o
próprio Ashenbach, também Visconti revela-se obcecado pela sua arte: os seus filmes vivem de atmosferas lívidas
e subtis abaixo de superfícies plácidas e da obsessiva atenção ao detalhe. Morte em Veneza, um filme
enriquecido pela magnífica música de Gustav Mahler e pela inesquecível interpretação de Dirk Bogarde, foi
reconhecido como sendo um dos melhores do seu genial criador com a atribuição do Grande Prémio do 25o
Aniversário em Cannes.
Ficha Técnica
Realização: Luchino Visconti
Interpretação: Dirk Bogarde, Romolo Valli, Mark Burns
Argumento: Luchino Visconti, Nicola Badalucco
Música: Gustav Mahler
Fotografia: Pasqualino De Santis
Montagem: Ruggero Mastroianni
Classificação: M/12
Sessão VI
O INTRUSO
L'Innocente (1976, 124 min)
Sinopse
Último filme de Luchino Visconti, "O Intruso" é a conclusão brilhante de uma carreira épica na história do cinema,
uma sumptuosa adaptação do romance de Gabriele D'Annunzio, que retrata a decadência e um vibrante retrato da
aristocracia italiana do final do século XIX. Tullio (Giancarlo Gannini), um aristocrata devasso e libertino, tem
vários casos extra-conjugais e finalmente deixa a esposa pela sua sensual amante, a manipuladora Jennifer
O'Neill. A braços com a fúria do marido da amante, Tullio tenta regressar para a sua mulher mas é envolvido numa
teia de enganos e paixões escaldantes. Recriando um mundo de extravagante luxúria, Visconti transmite de forma
brilhante a atmosfera de uma sociedade vinculada pela tradição familiar e pela honra, mas dividida pela procura
da satisfação superficial.
Ficha Técnica
Realização: Luchino Visconti
Interpretação: Giancarlo Giannini, Laura Antonelli, Jennifer O'Neill
Argumento: Luchino Visconti, Suso Cecchi D'Amico, Enrico Medioli
Música: Franco Mannino
Produção:: Giovanni Bertolucci
Fotografia: Pasqualino De Santis
Montagem: Ruggero Mastroianni
Classificação: M/12







